23.8.12

Blanche - I

*  Aqui  terá o conto completo!

Então Blanche se matrimonia aos 12 anos, na década de 1800, com Scott, de 15. Um enlacezinho arranjado, como costumeiro (porém, arranjado por ela).  Pois a garota é apaixonada, desde seus 11 anos, por Eric, e o admira torrencialmente todos os domingos matinais, da escadaria da capela.
Ela suspirava baixinho, procurava deslocar-se o mais próximo possível, para tocar em suas vestimentas; e quando ele ajeitava o chapéu... era o ajustar de um príncipe tardio!
Sua voz grave, e esgaseado olhar confiante, aqueles fios grisalhos escapando ao surrado chapéu. Seu odor brigando com as flores... Blanche quase desfalecia  ali em segredo. 
Sonho realizado, passa a viver desvencilhadamente na cabana, ao topo da montanha, para ocupar-se do rebanho de caprinos da incipiente família. Local onde somente o vento corre apressado.
A imensa e risonha estância  abaixo, finda onde a vista alcança, pelo lado sul. Tudo havia sido adquirido ao "bate estaca", em terras devolutas, pelo avô paterno de Scott, sem nunca chorar dinheiro.
A cada semana, um ente familiar, costumeiramente, realiza rodízio para auxiliá-la com o trabalho masculino, pernoitando na antiga edícula em anexo. Seu olhar, raspando o cume da porteira, sempre aguarda.
Peter, o primogênito, é odioso, estaladiço e reclamão, porém o mais eficiente. Em sua etapa de rodízio, as cercas são consertadas, alimentos plantados, animais melhor cuidados. Sua birra por estar ali fica escancarada, e Blanche mantém uma distância inteligente.
Na semana de seu "esposo", troglodita que é, necessita ser  pajeado com as mínimas coordenadas. Scott, corpulento e atarracado, faz-se numa montanha de músculos, contudo de raciocínio deficitário (para os tempos atuais seria considerado deficiente intelectual). 
Nick, o irmão do meio, todo dado às artes, instrumentos musicais, canto! No trabalho, segue lento e minucioso, perfeccionista. Passou a ser o amigo e confidente daquela alminha adolescente. Mastiga o cantinho do beiço sempre que pensativo, com um fiozinho de língua à mostra.
Tom, o empregado fiel, ali desde infante, quase adotado por todos. Distante, pardo, fechado, magérrimo, evasivo, ligeiro. Seus pensamentos são tão miudinhos que somente ele próprio os lê. Jamais se viu lágrima pratear-lhe a cara em regatozinho.
Eric, o arco iris, tira Blanche da Terra, sua fascinação por ele cresce conforme ela mesma também se desenvolve. E agora ali, tão quase palpável, ele dirige-se patriarcalmente a ela, flutuando feito a neblina de branco sem fim.
Suas mãos calejadas, fortes e protetoras, enlevadas na ação do tempo, não demonstram à garota a realidade palpável. Seu mundo é o que ela construíra, a realidade nada imporia àquele coração de galope atropelado. 
A cada cinco semanas, o horizonte se descortina, sua emoção se esbrange à faceira pradaria, e quase num sexto sentido, Eric passa a sentir-se mais atraído pela montanha dos caprinos, pincelado em imaturidade extemporânea.
Tão contagiante a paixão da menina, que ao ser expelida pelos órgãos sensoriais, Eric já não mais vê nela uma criança, e com rápida sofreguidão, apaga, banha, raspa aquele lapso de erótico pensamento mundano.
Suspirante qual um fole, no coração em tropel, Blanche se vê aplacada pelo olhar cobiçoso, pedinte a que Eric lhe arrasta sorrateiramente a cada peneirado transpasse.

2 comentários:

  1. Voltei ao começo, já que os detalhes vão se perdendo ao longo do tempo. Comentei apenas 1 vez(acho), mas estou vivendo a história de Blanche. Sua imaginação não tem limites!
    Beijo, Cristina.

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  2. Grata, Lúcia!
    Nas férias pretendo arrumar o conto (talvez num outro blog), pois esta história é muito longa.
    Outro beijão.

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