20.12.12

Arame farpado

Eu provavelmente tinha sete anos, em uma ensolarada manhã roceira, e observei meu pai atravessando por sobre a cerca de arame farpado.
Era dia de lavagem do café, portanto em meados de outubro /  novembro. Toda a família reunida: Vovô, Vovó, "primaiada", meus pais, eu e meu irmãozinho. Uma festa!
A coreografia tão harmônica: Abaixar o fio superior até tocar o segundo, ao meio. Segurar conjuntamente os dois fios, dar um leve giro sobre o pé direito e um galeio, atirar o corpo facilmente para o lado oposto.
Facilmente? Para perninhas tão curtas de garotinha?
Fiz tudo igualzinho, conquanto sem calcular as devidas dimensões, em minha organização espacial ainda deficitária.
Conclusão: Dois rasgos na parte interna da coxa direita. O primeiro, bem grande e profundo, o outro a imitá-lo com mais frescor. 
Ao olhar tudo aquilo aberto, com "banhinha" esbranquiçada... Banha naquela coxinha seca? É a profundidade! 
Tentei disfarçar,  engoli o choro. Regurgitei-o logo. Sangue escorrendo, e o shortinho não conseguia cobrir tamanho ferimento.
Minha mãe, ao ver o estrago, admoestou-me verbalmente e ameaçou uns bons tapas. Coisa corriqueira à época.
A Vovó, sábia, acolheu-me. Me retirou para sua casa, passou mercúrio cromo. Foi o maior carinho do mundo!
Quase toda a Cidade - ó a igreja!
Centro da Prata - morro.
Ir ao médico? Quase quatro quilômetros (a pé) até a rodovia, aguardar o ônibus, gastar dinheiro... Nem pense nesta hipótese.
A tatuagem em forma de duas vírgulas, está aqui, espalhadinha e menos visível. Fui fazer "Papanicolau" e a moça perguntou o porquê de tamanha cicatriz num local tão protegido.
arame farpado 1
Fonte da imagem: br.freepik.com

6 comentários:

  1. Cris amada, desculpe a minha ausência.Desde a semana passada que corro feito barata-tonta pra dar conta de tudo e ainda ficando com o netinho depois das 16h de todo dia. Tô um bagaço de cansada, mas arrumo um jeito par vir te dizer que vc foi um presente a mais que recebi em 2012.
    Tenha Um Feliz e abençoado Natal, repleto de alegrias e abraços carinhosos de todos os teus.Paz e Bem a cada dia deste e do ano que aí vem.
    Bjooos,
    Calu

    ResponderExcluir
  2. Fico grata, Calu! Também me identifiquei demais contigo...
    Desejo muita serenidade e vida saudável à ti e sua família.
    Em 2013 estaremos juntas com mais surpresas belas - parabéns novamente pelo livro, fico orgulhosa!
    Outros beijos.

    ResponderExcluir
  3. Cristina eu to até imaginando a cara da moça qdo viu a cicatriz, eu acho que ela não acreditou nessa história não rsrs.
    Era bem assim mesmo naquela época, a gente se machucava a mãe brigava, a avó acolhia e o mercúrio ardiaaaaaa.
    Um bjo pra vc minha linda e se eu não passar por aqui te desejo desde já um natal abençoado pra vc e pra sua família.
    Abraçoss

    ResponderExcluir
  4. Grata, Renatinha!
    Tudo de maravilhoso para ti, seu Love e toda família também.
    Adorei as rimas, perfietas. Te estimo demais!
    Outro abração caipira.

    ResponderExcluir
  5. Cristina, eu e muitas crianças portuguesas da minha idade crescemos ainda no tempo das ameaças do género "se cais, ainda levas por cima". Significado: se você se magoa por sua própria culpa, os pais são capazes de ainda dar uns "tapas" para a gente aprender. O que vale realmente são os avós, são uns anjos... :)

    ResponderExcluir
  6. Tem o dito, Joana!
    Avós são o açúcar de nossa infância. Escondi muitos ferimentos devido a isto.
    Um abração.

    ResponderExcluir

Desativado

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.