15.3.13

A paineira

Havia uma fileira delas no caminho à escolinha rural, todavia a "nossa" era aquela mais idosa, com muito tronco e poucas folhas, que se encontrava pedregosamente no barranquinho, ali no terreiro da escola.
Nesta época do ano, o atapetado rosa nos levava por mais de 500 metros. Nós permanecíamos ali, e ele ainda seguia em frente, até o término da casa da Tchana.
Lá do alto, quando descíamos a falda íngreme onde habitávamos, apreciávamos as rosadas moitonas das exuberantes paineiras em flor. Tudo estava bem, era a vida em êxtase.
Mas a nossa paineira não, essa mal florescia, raquítica, anêmica, talvez asmática pela baixa intensidade de folhinhas.
Aquelas flores suculentas, carnudas, cheias de personalidade, que fossem pouquíssimas, porém de cor rosa mais intenso. Era nossa paixão a paineira. 
Os garotos, durante o recreio, atravessavam o regato sombreado pela pequena capoeira para catar cipó. Circulavam de uma margem à outra, campeando com um majestoso canivete, sem molhar os pés, pulando dentre as tantas pedras soltas.
As cristalinas águas, que nasciam ali na serra, provavelmente eram minerais devido ao complexo alcalino de Poços de Caldas (vulcânico).
Então os meninos, após o ritual de se deitar, lavar a cara e beber, sorvendo diretamente com a boca n'água, voltavam com cipó o suficiente para "pular cipó" e fazer o balanço na mãezona paineira.
Sinto perfeitamente o vento me lambendo, sinto os pezinhos descalços roçando o gramado alto desta época do ano, em cada vai e vem, galeando no balanço de cipó.
É claro que logo eles se ressecavam, e num galeio mais voluptuoso, éramos lançados para longe. Ninguém reclamava, sequer chorava; avisar um adulto? Proibido! Os ossos do ofício somente nos levavam a outra e mais outra balançada cooperativa na saudosa e querida.

Esta excêntrica paineira, lá atrás, fotografei no "Caminho da fé" (carnaval 2013).


Ponte da Ferrovia vista da rodovia Águas da Prata - Poços de Caldas
fonte da imagem: www.panoramio.com/photo
A escolinha abandonada, fica logo abaixo deste local, veja o viaduto da ferrovia. Esta vista, é de quem sobe pela rodovia. Mais alguns quilômetros e temos o marco divisório entre São Paulo e Minas Gerais, aproximando-se da magnífica "Poços de Caldas".

2 comentários:

  1. Lindas recordações e as paineiras são tão lindas. Belas fotos! beijos,ótimo fds!chica

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  2. Oi Chica!
    E a paina (pãina) então... deixa tudo à volta "nevado", branquinho.
    excelente domingo.

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