24.6.13

Adoção

Imagem: http://blog.voluntariosonline.org.br/transtorno-desafiador-opositivo/
Sábado levei para dormir no sítio, a filha de minha prima, com 23 anos de idade. A última vez que a havia levado foi a mais de um ano...
Ela foi adotada aos seis dias de idade, após a minha prima ter abortado espontaneamente, por três vezes em menos de dois anos.
Um dos ginecologistas a orientou a adotar, sob pena de ter um bebê com deformidades, pois os abortamentos apresentavam problemas do gênero.
A garotinha, aos poucos foi apresentando comportamentos atípicos: muitos profissionais e diagnósticos depois, constataram deficiência intelectual.
Até aí, tudo esclarecido. No tumulto, minha prima engravidou, e quando a menina tinha dois anos, já havia um molequinho belo e saudável complementando a família; nada de deformidade. 
A comorbidade que a garota apresentava, até hoje não foi oficialmente diagnosticada, mas tudo indica TDO.
Sim, além da deficiência intelectual, há comorbidade!
O Transtorno Desafiador Opositor implica esforço redobrado por parte dos familiares, em lidar com a criança "difícil", considerada por alguns, com "má índole".
É um transtorno comportamental que se refere a desobediência, enfrentamento, agressividade, não aceitação de regras, tentativa proposital em irritar, sentimento de raiva, dificuldade em manter amizades, dentre outros.
Isto aliado à deficiência intelectual, a torna um desafio: ela diz frases repetitivas, em tom muito alto, teima nos mesmos assuntos, tem compulsão alimentar (consequentemente é obesa).
Após se ambientar, passa a fazer birras por motivos fúteis. Foi o que aconteceu ontem, em meio a 25 pessoas (familiares).
Sabendo que parte do grupo ficaria no sítio mais um dia, não aceitou voltar comigo, todavia não tinha lugar para ela nos veículos que voltam hoje.
Após estressar os parentes, aceitou voltar com minha outra prima, que viria bem à noite, e mesmo estando sob minha responsabilidade, tive que deixá-la mais um pouco, cedi para não enfartar.
Onde quero chegar?
A adoção é um direito da família que pretende constituir mais membros, e sobretudo um direito da criança à uma segunda chance.
Há nesta teia, um terceiro direito: o direito à verdade. É fundamental que a família saiba de antemão de todas as probabilidades e se disponha a enfrentá-las.
Então você retruca:  qualquer mulher pode ter um filho especial. 
Nestes mais de vinte anos de experiência com crianças, já fui inclusive, Conselheira Tutelar. O que ouvi de um juiz da infância e juventude me deixou reflexiva.
Ele disse que os perfis das mães que entregam os filhos em adoção são basicamente dois (salvo exceções).
São mães com deficiência intelectual e/ou dependentes químicas (lembrando que há exceções).
Minha prima descobriu a algum tempo, a mãe biológica de sua filha (cidade pequena): É deficiente intelectual, com outros filhos especiais. 
Sabemos que as chances de uma mulher deficiente intelectual gerar filhos especiais é infinitamente maior. Sabemos também que o uso de substâncias químicas na gravidez causa problemas ao bebê, em maior ou menor graus. 
Munida eticamente destas informações relevantes, a família se organizará para receber o bebê, que poderá ou não, apresentar algo mais.
A alguns anos, uma família foi induzida estimulada por profissionais, a requerer a guardar de três irmãos que estudavam em minha escola: menina, garoto, menina (de seis a onze anos).
As duas meninas apresentavam TDO (sem diagnóstico fechado), e esta informação importantíssima foi omitida ao casal. Após alguns meses de muitíssimo trauma, foram devolvidos...
Culpa das crianças? Culpa do casal? Culpa do TDO? Culpa dos profissionais envolvidos. Todos na escola sabiam da fragilidade de um pacote três em um, ainda mais envolvendo transtorno tão difícil!
E nesse emaranhado, o garoto havia se adaptado bem. Não foi permitido que a adoção ocorresse apenas com ele, embora tanto ele, quanto o casal solicitassem tanto.
A lei é clara: ou se adota a família toda, ou a devolve toda para o abrigo - discrepância total entre o real e o ideal. 

4 comentários:

  1. Tenho muita vontade de adotar uma menina, mas muito medo também...
    Uma coisa é gerar um filho com "problema" outra é adotar...decisão dificil, mas corajosa.
    Espero que Deus me ilumine para fazer a coisa certa.
    As vezes, adotar uma criança com "problema" é uma prova...uma maneira de crescer espiritualmente!!
    Beijos carinhosos, Lu e Mattias

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    1. Oi, Luciana! Como vai o belo Mathias?
      Olha, sou plenamente a favor da adoção. Inclusive, prefiro os maiorzinhos, devido à possibilidade de iniciação pela guarda.
      Tive vários alunos adotados, e na maioria dos casos, o processo é tranquilo.
      O que eu não concordo, é que não se deixe bem claro às famílias, todas as possibilidades...
      As pessoas são leigas, os profissionais não. O TDO, por exemplo, é um transtorno muito difícil, que afeta toda a dinâmica familiar.
      Se não for tratado devidamente, ou se o tratamento falhar, ou se o grau de TDO for elevado demais, a criança pode vir a ser um bandido no futuro.
      É também importante lembrar que apenas cerca de 5% da população apresenta o transtorno, todavia, dentre os internos da "Fundação Casa", chega-se a 80%.
      Quando há insegurança, eu aconselharia os maiores, pela possibilidade de um convívio (no próprio abrigo), antes da decisão.
      Eu gostaria muito que não mudasse de ideia. Apenas estude bastante e tome uma decisão madura.
      Outros beijos.

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  2. Cristina, é bem verdade que todo casal pode ter um filho especial, mas ter um adotado é mais difícil de aceitar, ainda mais quando alguém sabia e omitiu a informação. Admiro mesmo quem adota uma criança, é um gesto de amor e desprendimento infinitos.
    Beijo!

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    1. Como vai, Lucinha?
      Então, nesses mais de vinte anos em que trabalho com crianças, a maior queixa das família é pela falta de clareza / informações (chegam a se sentir traídas, tapeadas).
      Há mães que adotam uma criança idealizada (como minha prima), e recebem o bebê real, cheio de desafios para toda a vida.
      A filha de minha prima tem 23 anos e continua com as dificuldades da infância. O casamento acabou, há novo companheiro, outro irmão, a família se esquiva...
      Não tenho intenção de assustar ou desestimular a adoção, tão importante para a criança. Apenas exijo que os diversos profissionais envolvidos, pequem pelo excesso de cautela, e não pela penumbra.
      Outro grande beijo para ti.

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