21.7.13

Blanche XXXII

*  Aqui  terá o conto completo!

Após boatos com o traumático falecimento da meretriz, na pensão, a pradaria se encontra em apreensivo suspense. Sobreveio a sôfrega hora de Sara.
Alexia, sua sogra (com óbito semelhante à cortesã), foi rememorada veementemente pela caseira Colen, a sós com Peter, em total vulnerabilidade.
Após semanas em “contrações de treinamento”, não tão indolores assim, estrearam enfim as secretas e verdadeiras escravas da dilatação, numa gélida tarde de terça-feira. 
Noite de padecidos agachamentos, plangores e caminhadas solitárias ao redor da vigilante cabana, sob uma lua anoréxica, à procura das melhores posições rogadas pelo corpo.
Por companhia, o horripilante trinar proferido pelo pássaro urutau (ave fantasma em linguagem indígena), que chacoalha o fundinho da alma, nos intervalos contracionais, ancorado ao topo do mourão de cerca.
A presença da ave estrambótica, de estética excêntrica, globo ocular colossalmente desproporcional, potencializa o insólito das madrugadas rurais, de negro cheio e oco.
A parturição acocorada, vezo regional herdado das indígenas, com ajoelhamentos intermitentes, transcorreu metodicamente, com um aflito período expulsivo de poucas horas. 
Em força descomunal, grudada à barra de madeira da parede, supervisionando seu próprio parto em detalhes, Sara mordia um nó, plangia, e apostava no sucesso da labuta do filhotinho.
Corpo cândido escalvado, cabelo em coque desgrenhado,  suor hidratando as ruguinhas do rosto, pés descalços com os dedos alavancados no rodapé e rústicos calcanhares suspensos...
Quando ele escorregou num estouro, apoiado pela gravidade e amparado por Colen, ambas se viram apalermadas. 
Ao crepúsculo assomou Isaac, um pequenino garoto transparente, de olhinhos vidrados a fitar a mãe, como se já a conhecesse a muito.
Após o desprendimento, a caseira fez-lhe a assepsia e o enrolou em algodão cru. Fragilizada, Sara clamou ao esposo Peter, e às crianças, que adentrassem o recinto para apreciar o bebê.
Logo após a mamagem do colostro, Colen irrompeu ao salão, apresentando o novo (e choroso) ente familiar ao grupo que aguardara o desfecho em tentativas de orações.
Finda aqui a infância de Bencio. Será o pagem durante e após o puerpério da parturiente. Por quarenta dias cravados, a genitora não se banha, alimenta-se com caldos, permanece ao escuro. Visitas são proibidas, por aduzirem mal agouro.
Os alimentos reimosos são terminantemente proibidos na dieta (quarentena): peixes e afins, carne de caça ou suíno, cítricos, tomate, pepino, ovos, pimenta, pois são considerados tóxicos: causam prurido e dificultam a cicatrização do parto. O inhame deve ser ingerido uma vez ao dia, para purificar o sangue. 
Enfim, com a bonanza, Eric alça-se à montanha. Irradia Blanche com o nascimento do neto de olhinhos que riem, todavia noticia também a morte da rameira. Edith e Judith, identiquinhas, foram adotadas por Helen (supõe-se que não para fins comerciais).

2 comentários:

  1. Oie Cristina, acho que o parto a moda indigena deve ser mto dificil, meu Deus!!!
    Gostei do relato e tbm imaginei os olhinhos da minha bonequinha.
    As contracoes voltaram com tudo hj e estao mto doloridas, mas so vou pro hospital se a coisa piorar pq por enquanto da pra aguentar.

    bjiimm e otima semana

    meuamorpaquistanes.blogspot.i

    http://www.lencos-e-aderecos.com/

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  2. Oi Andreza... aguente firme, está quase no tempo.
    Fique bem quietinha, estou aqui rezando para que tudo transcorra perfeitamente.

    Fui criada na roça, e me lembro das mulheres antigas contando que as caboclas pariam assim.
    Chegavam a ter o bebê enquanto estavam na plantação; também, após meia dúzia, deve ficar mais fácil.

    Um abraço para vocês duas.

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