Acabo de chegar da rua. Dentre outros lugares, fui a um fornecedor comprar discos de corte... a funcionária (que conheço a mais de dez anos - de lá), veio me atender chorando (não estava apenas chorosa).
A mãe (com 75 anos) morreu a quatro meses e ela não se conforma. Quando chega à tardezinha, hora de voltar para casa, é um aperto no tórax.
Ela é solteira, com mais de quarenta anos, e viviam apegadamente sós.
Por outro lado, eu tenho a avó Nina, com quase 91. Faz xixi na gaveta, pensando que é o penico dos tempos antigos, depois fica brava sem saber quem foi.
Está lúcida num instante, depois perde o raciocínio e começa a chorar (é de dar pena), dizendo:
_ Que vida, meu Deus! Não sei onde estou... Não sei quem vocês são.
Do nada, vê uma vaca morta no quintal, e reclama sobre aquela aberração.
Não há funcionária que pare, não aguentam cuidar devidamente. E as pessoas da família trabalham...
Ela está bem fisicamente, mas passeia intermitentemente entre a lucidez e a demência.
Não temos no município, uma creche para idosos, onde ela pudesse estar segura nos dias úteis.
Ela está bem fisicamente, mas passeia intermitentemente entre a lucidez e a demência.
Não temos no município, uma creche para idosos, onde ela pudesse estar segura nos dias úteis.
Na última sexta-feira, uma prima de 51 anos, sobrinha neta dela, daquela roça onde eu durmo sempre, faleceu num acidente de trabalho.
Às 7 h, quando lavava café em companhia de duas colegas, o funil entupiu. Ela adentrou a peça para desobstruir os grãos, coisa que ela faz a quatro anos.
Nesta data, seu pé escorregou e ficou preso naquela pontinha fina do funil (de um metro e meio). No desespero, uma colega foi chamar os homens e pegar apetrechos para retirá-la.
A outra, também prima, ficou a seu lado. O local é ermo e duas carretas de café passavam por ela. O resgate foi acionado, mas são quase vinte km de distância.
Após quinze minutos de desespero, quando o povo começou a chegar, ela já estava em seus últimos momentos.
Morreu conversando agoniadamente com a prima. Não foi soterrada totalmente, apenas até o peito, mas os grãos, enquanto ela forçava a respiração, foram ocupando lugar, e comprimindo seu diafragma.
São três casos diferentes, porém envolvem a vida e a morte: morrer cedo demais é terrível, viver demais também é demasiado sofrido, morrer numa média etária em que se considera idoso, porém lúcida e autônoma, também gera traumas...
Enquanto eu pilotava a moto naquele horário de pico, as três histórias dançavam em minha mente, tive que expulsá-las para cá.
Enquanto eu pilotava a moto naquele horário de pico, as três histórias dançavam em minha mente, tive que expulsá-las para cá.
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Tudo o que pensei hoje pela manhã enquanto estava em casa dos pais, pois um irmão de meu pai tem 80 anos e alzheimer, não sabe quem é nem onde está, outro irmão tem 90 anos e começou a ficar demente, ora está bem ora fica como sua avó, e eu a ver tudo isto e o meu pai que tem 78 anos e está bem, graças a Deus, custa-lhe ver os irmãos assim e pensa que vai ficar igual, dizer-lhe que não pense...é impossivel.
ResponderExcluirAmiga a vida não é fácil, temos de tentar estar felizes cada dia que passa...
A morte é terrivel...
Oi Marina, você sempre nos lembrando da felicidade! Já me deixou mais feliz...
ResponderExcluirÉ que no Brasil se tem dinheiro para estádios-fantasmas caríssimos, e não há serviço público de acolhida ao idoso. Quando eu ficar velha e demente, o Estado nada fará por mim? Meu filho também estará velho. Ter quem lhes acuda, é a maior preocupação dos idosos, e o poder público deve fazer parte disto.
Espero que em Portugal, haja ao menos "creches para idosos".
Um beijinho!
Nós cá chamamos de "lar de idosos" e sim há alguns mas não o suficiente, e dai aparecem particulares mas muito caros, e por vezes os filhos não podem pagar, infelizmente há muitos idosos abandonados, por vezes até em hospitais...O povo não respeita muito o idoso, eu não penso assim, claro, mas infelizmente muita gente pensa.
ExcluirTenho assistido às revoltas do povo Brasileiro, e concordo, tenho cá uma amiga Brasileira, Juiza, que me tem contado das necessidades de todos.
Temos de mudar mentalidades, certo?
Beijinho Cristina
Olha, Marina, aqui temos um asilo filantrópico - de qualidade, porém pago, e com poucas vagas.
ExcluirHá lares, (filantrópicos e públicos) que são casinhas individuais, mas as pessoas precisam ser virar sozinhas, não resolve.
O mudemos a mentalidade, para o bem comum.
Outros beijos.
Que coisa triste!!! que aflição dessa pessoa meu Deus..que morte? que Deus a tenha em paz...
ResponderExcluirOi, Nany! Agradeço seu cuidado.
ResponderExcluirEntão, na zona rural, tudo assume uma dimensão ainda maior, pelo fato das pessoas formarem uma comunidade meio fechada.
Toda a Serra do Mamonal está perplexa...
Beijos.
OS DRAMAS DA VIDA CRISTINA!!!
ResponderExcluirTUDO ISSO NA SUA HISTÓRIA TEM LEITURA DIFERENTE, COM O DRAMA A CONJUGAR SEM DÚVIDA!!!
1 BEIJINHO LÍDIA
Lídia do céu! Como as questões existenciais vão adquirindo mais espaço enquanto envelhecemos...
ResponderExcluirUma tia paterna querida me disse:
_ Já deixei encomendado para a Regina, que me coloque no asilo quando estiver como sua avó materna (que ela mal conhece).
Não é assim. Primeiro porque o asilo daqui não aceita pessoa debilitada. E depois, acho injusto delegar a um filho, tal fardo.
Temos que procurar por nós mesmos, enquanto ainda saudáveis.
Beijinhos do Brasil.