10.8.13

Conterrânea


 Orides Fontela.    Imagem Google

ERRÂNCIA
Só porque
erro
encontro
o que não se
procura

só porque
erro
invento
o labirinto
a busca
a coisa
a causa da
procura

só porque
erro
acerto: me
construo.
Margem de
erro: margem

Escolhi esta foto com um de seus muitos gatos, pois a mostra meio "maternal", como geralmente não a tínhamos...
Sou ardorosa por seus poemas entranhadiços, pungentes, ermos, pontiagudos.
Trata-se de uma das muitas brasileiras possantes, com altas habilidades, perdidas nas cerrações da história.
Seus poemas pelados, cheios de carestia nas palavras e fartura de sentidos, nos levam a reptar pelas entrelinhas, procurando... encontrando! Que?
Ela vai crochetando as letras em palavras minguadas, todavia diamantadas. Quase podemos enxergar por dentro de seu vulcânico cérebro a cuspir de canto de boca, suas lavas subterradas.
Há algo mais marginal do que errar (e assumir o próprio erro) numa sociedade hipócrita que se julga perfeccionista? 
Esta sua reversão / contraversão em que a pessoa humana em construção, tem a possibilidade de se desembainhar, é tão pedagógica que deveria ser adotada nas aulas de Direito.

CORUJA
Voo onde ninguém mais - vivo em luz 
mínima
ouço o mínimo arfar - farejo o
sangue
e capturo
a presa
em pleno escuro.

Este outro poema me lembra a belíssima taturana, mesmo transformada em borboleta, a queimar com urticância desproporcional tudo que se aproxima para além da distância inteligente.
Sempre uma alucinada vida no fio da navalha, na corda bamba, no alto do muro, na penumbra, repartida no meinho, equatorial. 

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