26.8.13

Mingas



Era um senhor que morava na zona rural onde cresci. O chamávamos "Minga"; somente em adulta vim a compreender seu nome correto.
Portador de  deficiência física, devido à paralisia infantil. Uma das pernas ficou atrofiada, ele se locomovia com uma moleta.
Um homem bastante habilidoso e produtivo, quase um "professor pardal". Nunca se casou (morava sozinho), mas uns sobrinhos da cidade passavam as férias com ele.
Não tinham a mesma índole que o tio. Viviam tentando aprontar para cima de nós, crianças da roça; tentavam nos perseguir; gritavam palavras de calão.
Certa vez, o maior (com uns 12 anos) tentou furtar um cavalo nas imediações, interpelado por um transeunte. Nunca mais voltaram lá, pois o tio se sentiu humilhado.
Vivia como caseiro nas terras do tio Antenor (tio de minha avó), e era o melhor amigo de meu pai. Foi a primeira pessoa pobre da região a ganhar uma TV (quando o tio trocou a sua).
Então, sua casinha consolidou-se como a gamela oficial da "homarada" das redondezas. Na roça era assim: tudo que havia de melhor era fornecido ao homens. Mulheres e crianças ficavam com o troco (patriarcalismo).
Toda tardinha, após o jantar (que era sempre arroz, feijão e "mistura"), meu pai pegava a trilha rumo à casa do Mingas, voltando somente após dormirmos.

De vez em quando, o Mingas fazia uma janta: polenta com frango caipira, tatu assado (que os amigos levavam), etc. Todo seu grupo de amigos participava. 
No caminho da escola, uma vez ou outra, eu e minha prima desviávamos a trajetória e adentrávamos o terreiro do tio. Contornávamos a casinha, mas nunca adentrei - tinha muita curiosidade!
Aparentemente eram apenas dois cômodos, anexados à oficina da fazenda. Tinha uma varanda em frente, onde ficava uma carroça.
A casa do tio tinha aquela escadaria imensa, típica de fazenda. Lá, eu entrei algumas vezes com a mãe, inclusive para assistir TV (que era um chiado só).
Após viver na cidade, meu pai continuava a visitar o Mingas esporadicamente, levando inclusive os netos para conhecê-lo. Até que, lá pelos 70 anos, morreu "de repente".

Imagem Google

2 comentários:

  1. O meu bisavo que era assim...gostava da solidaão e das engenhocas, tinha até um moedor de cana manual no quintal pra moer caldo de cana pra gente,tempos bons.
    Saudades de vir aqui, lindo final de semana,bjoss

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  2. Oi Renatinha... trabalhando muito?

    Ah, o Mingas vivia rodeado de amigos, todavia meu avô Eurico fazia as garapas quase todo domingo, após o almoço. A "netaiada" se deliciava.

    Gostei de te ver! Ótimo descanso também.
    Outros beijos.

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