6.10.13

Arapuca



Esta eficiente armadinha, ou ferramenta de caça muito usada aqui na região, remonta à era indígena. 
Era estimada por meu pai, eu o vi fazer várias: ele cortava pauzinhos e ia amarrando-os com cipó ou imbira de bananeira, até o topo piramidal.
Para armar, ia até o local de avistamento e delicadamente equilibrava a pirâmide sobre uma estaca. 
Colocava milho embaixo e quando a ave, ou outro animal, tocava a estaca, toda a estrutura caía sobre ela, mantendo-a encarcerada, todavia saudável.
O pai gostava do nambu, saracura e pomba do ar, por serem um pouco maiores. A seriema parecia extinta, todavia agora, livre da caça, retornou em abundância. 
Ele era um homem com um pouco da síndrome de Peter Pan, sem dúvida, trabalhava menos que os outros, para ficar caçando e pescando feito índio.
A carne dessas aves, principalmente do peito, era bem escura, vermelha, pois o voo forçava estes músculos. Muito diferente deste "peito isopor" que há hoje no mercado. 
A "mistura" lá em casa, muitas vezes era carne de ave caçada assim, ou abatida com espingarda, o que danificava boa parte do animal, que já era bem pequeno. 
A ave era limpa e cortada em cruz, pois éramos quatro: cada um comia um pedacinho, bem pequeno por sinal, contudo saborosíssimo.
Era nossa fonte de proteínas: uma carne usada como temperinho; o que enchia a pança mesmo, era a dupla arroz com feijão.
Minha mãe aproveitava os órgãos internos também. A moela era mínima, e até difícil de limpar. Coração e fígado eram motivo de disputa entre eu e meu irmão. 
Criávamos galinhas, porém tanto elas quanto os ovos eram vendidos na cidade, mais uma fonte de renda alternativa ao café, que só virava dinheiro uma vez ao ano.

Fonte da imagem:     

4 comentários:

  1. Interessante te ler e saber de tantas coisas diferentes!Gostei! beijos,chica

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    1. Excelente tarde, Chiquinha!
      Fazia parte da cultura da época, era um estilo de vida de subsistência. Meus alunos pensam que sou pré-histórica...
      Nós e a natureza éramos cúmplices, a ideia do lucro tinha dimensões tão menores. O respeito à caça era alta, assim como o respeito à morte de um pé de alface. Nada de desperdício.
      Em países escandinavos, com elevados índices de qualidade de vida e civilidade, ainda hoje há temporada de caça aos veados, baleias, alces.

      Outros beijos prá ti.

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  2. Oi Cristina,
    Confesso que o título da postagem me assustou... "Arapuca"... não soa bem.
    Enfim, li a postagem... AAHH BOM! Pra alimentação, PODE!!!;-)

    Eu também fui criada na zona rural, uma fazenda no NOROESTE paulista... lá tínhamos fartura e conforto... coisa incomum mesmo... é lá era proibido caçar qualquer animal,(incluindo aves). Comíamos carne bovina (a fazenda tinha matadouro e açougue) além de frango e porco e mais tínhamos horta e pomar.A fazenda não era nossa (meu pai era empregado lá)
    Eu cresci ouvindo que não se faz arapuca...

    Ter ou não ter necessidade, eis a questão!
    :-)))))))))))))))))))))))))))))))))

    Abração
    Jan

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    1. Olá, Jan!
      Hoje em dia é proibido, e com razão, pois a população humana aumentou muito e seria uma devastação.
      Na década de sessenta, a quantidade retirada era mínima, e carne era apenas um temperinho.
      Só fui comer churrasco quando já vivia na cidade... nunca havia devorado mais que um pedacinho na mesma refeição.
      Carne bovina era quase proibido. Imagine matar uma vaca! Também provei carne bovina apenas na adolescência, e achei o gosto estranho.
      Hoje cometemos muito mais crime contra a natureza comendo tanta carne. Ainda bem que o pai não derrubou a floresta naquela época, para colocar multidões de gado.
      Ele contribuiu para a natureza, pois fazia um controle ecológico. A criação em larga escala é mais predadora que a caça artesanal, senão o Xingu não seria sustentável.

      Outro abraço.

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