Aqui no interior, ainda é comum vermos pessoas com hábitos arraigados desde quando a igreja católica tinha poder social e político fortíssimo. E também religioso, claro.
Ontem, enquanto eu corria na pista do piscinão, uma velhinha caminhava com o rosário em mãos, rezando o terço (é algo comum). Coisinha mais sublime!
Agora a pouco, uma moto em minha frente, passava por detrás do Cristo da cidade. Ele, menino novinho, soltou a mão direita e fez o sinal da cruz. Quem pilota moto, sabe que a mão direita acelera e breca; tem um descidão naquela rua e ele ziguezagueou...
Se um padre conhecido (porque eles não usam mais o famoso colarinho de padre) anda pelas ruas, ainda há quem faça questão de lhe pedir a benção.
Passando pela lateral das igrejas, várias pessoas também fazem o sinal da cruz, assim como em frente ao cemitério, velório e cortejos fúnebres.
As expressões: "Vai com Deus"; "Fica com Deus" - mesmo sem intimidade; "Deus te crie" - quando alguém dá um espirro; "Deus te pague" - quando fazemos um favor; "Deus me livre" - quando a coisa é feia; "Pelo amor de Deus" - num apelo, ainda são corriqueiras aqui no interior.
O hábito de rezar alguns terços, ao passar a noite no velório e orações em pequenos grupos ao pé de doentes acamados resistem ao século XXI.
O hábito de rezar alguns terços, ao passar a noite no velório e orações em pequenos grupos ao pé de doentes acamados resistem ao século XXI.
As orações de algumas professoras com seus alunos ao iniciar as aulas; o sinal da cruz ao adentrar o local de trabalho; antes de sair em viagem e ao enfrentar algo difícil, também acontecem.
Há ainda as introspectivas rezas em rádios interioranas, exatamente às seis e dezoito horas, quando pessoas colocam um copo d'água ao lado do aparelho, para se tornar benta.
Para quem não dispõe de muita fé (pois fé é dom individual), rezar o terço seguindo o rosário é no mínimo um excelente exercício mental. Eu aprecio quem sabe comandá-lo com convicção.
No rosário, há mistérios para serem rezados de acordo com cada ocasião: dolorosos - para morte e doença; gozosos - para momentos jubilosos; luminosos - para sacramentos (batismos, casamentos, crismas, etc); gloriosos - para vitórias.
São singulares manifestações a mesclar religiosidade com cultura e arte, onde a espontaneidade e fé se sobrepõem ao raciocínio lógico-matemático e ao estresse diário.
Olá Cristina
ResponderExcluirFiquei lendo seu post como se estivesse hipnotizada, adorei ler.
Lembrou-me de uma canção do padre Zezinho, "De lá do interior"
Ele diz que as pessoas do interior guardam a essência e costumes antigos e não sentem vergonha de ter fé. Aqui em Muaná não é diferente o povo tem muito respeito e seguem com suas tradições. Acho lindo em ver que homens já pais e avós chamam seus pais de papai e mamãe e pedem bênçãos, o mais velho beija sua mão abençoando e o mais novo logo a seguir beija a mão do mais velho agradecendo é muito rápido e não há ninguém que não faça o mesmo desde o mais novo ao mais velho e até eu entrei neste costume. É adorável o respeito e o amor que as pessoas tenham e conservem para sempre, pois educação e respeito nunca irão cair de moda.
Parabéns por tocar neste assunto avivam na gente lembranças e desejos de fazer nascerem costumes tão lindos e que só fazem bem.
Beijinhos paraenses.
Olá, Flor do Marajó!
ExcluirO costume de tomar a benção dos mais velhos tem se perdido na cidade, contudo na zona rural continua forte.
Eu tomo a benção de minha avó até hoje, e dos tios mais velhos... das tias novas, perdi o hábito.
Outro dia, cheguei ao velório às 5 h 30 da manhã e havia um grupinho terminando a reza ao velhinho falecido. Estavam exaustos pela noite em claro, porém se esforçavam em homenagem àquela alma que se desprendera.
Realmente é como você diz: amor, respeito e educação são atemporais.
Outros beijos interioranos a ti.
Muito bom o tema abordado, você me fez lembrar das orações que nós fazíamos junto da professora antes de cada aula. Ainda carrego lembranças dessa época de "catolicismo". Infelizmente com o modismo de não pode isso, não pode aquilo porque o país é laico, tudo foi ficando mais material e menos religioso. Me lembro como se fosse hoje quando tiraram os crucifixos da faculdade que eu estudava e tiraram também os crucifixos da parede dos fóruns da cidade. E ainda tem gente que discute a frase sobre Deus nas notas brasileiras..onde iremos parar? Podemos ou não podemos manifestar uma fé?
ResponderExcluirAbraços!!
Oi, Star! Bem vinda!
ResponderExcluirEu também me lembro, de quando trabalhava na creche e a Coordenadora chegou de uma reunião esbaforida. Correu à sua sala e retirou rapidamente uma santinha que mantinha sobre o armário.
Foi quando ela, meio trêmula, citou a laicidade e marcou reunião para expor as novas regras sobre o assunto.
Gostei de dialogar contigo,
outro abraço do interior.
Querida Cris, também li com satisfação seu belo post, e fiquei aqui pensando o quanto esta rede de televisão, a tal platinada principalmente, tenta induzir o povo daqui e lá de fora de que este Brasil é só o eixo Rio-S.Paulo. Esquecem o quanto este país é grande e cheio de idiossincrasias. Você avivou as lembranças de como eram os nossos tempos de escola e nos fez enxergar que, até mesmo nos dias atuais, ainda existem lugares com pessoas que não têm vergonha de explicitarem sua fé. Achei o máximo a velhinha rezando o terço enquanto fazia seu cooper, aliás, um bom momento para este exercício espiritual aliado ao físico.
ResponderExcluirNão sou religiosa, mas respeito as pessoas e suas crenças, só não gosto de nada imposto e que tire me coloque em situação desconfortável, mas acho lindo esta manifestação de fé e respeito de alguns.
um super abraço carioca
Ótima noite, Alfazema!
ResponderExcluirAs peculiaridades deste Brasil deveriam ser expostas por aquela e outras TVs, pois a massificação cultural empobrece.
A caboclice dos caipiras ainda expõe certos comportamentos de uma época sem mídia, quase hermética, que gosto de observar.
Esta "paçoca" bem piladinha entre religião, expressão artística e cultura indouta aparece cá e acolá, cada vez mais escassamente.
Uma pena...
Abreijos brejeiros!