1.2.14

Sensação estranha...

Hoje conheci pessoalmente um blogueiro que sigo. Ele compareceu à oficina para arrumar uma roda "que a esposa ralou". Dizem sempre que foi a esposa - homem nunca é navalha assumido, sei lá.
Fiquei reparando nele desconfiada, matutando... será que é? Será que não? Quando ele deu seu nome completo para eu preencher a ordem de serviço tive a confirmação. Uau! É gente de carne e osso!
Quase comentei sobre o blog, porém hesitei. É muito estranho conhecermos tanta coisa sobre a vida de alguém, estar com a pessoa lado a lado e a recíproca não ser verdadeira.
É quase como aquele conto de Andersen:  "A roupa nova do rei". Nós vemos o ser "nu" à  nossa frente e ele não tem a menor ideia do fato, está inocente e não tem como se defender, pois praticamente não sabe de nossa existência.
Sabemos que temos leitores (além daqueles inconvenientes robôs que nos visitam sempre), todavia não temos a menor ideia de seu perfil, pois a maioria não comenta nos posts.
Foi aí que me assustei imensamente com a intimidade fornecida por um blog: ficamos literalmente na vitrine para nossos seguidores apreciarem, criticarem, zombarem, julgarem, nos enxergarem por dentro, o oposto do mundo real, onde expomos mais "a casca".
Se eu comentasse com ele, sem falar da existência de meus blogs, seria traição. Se comento e ele rala a roda de novo,  após me ler? Não tenho coragem de arriscar a ficar cara a cara, imaginando que ele saiba tanto sobre mim.
Parece que a minha imagem interna é muito mais forte que a casca superficial. Seríamos íntimos estranhos, ou estranhos íntimos. Nem com meu irmão sou tão íntima assim... Desvirtualizar de supetão requer muita coragem, a menos que seja algo combinado previamente.
Aquelas moças Brasileiras que se prostituem na Holanda, e se expõem aos turistas, nas vitrines, em troca dos necessários proventos, também me vieram à memória. Imagina se elas um dia vão expor esta condição aqui no Brasil.
Não estou comparado blog à prostituição ou algo anti-ético, mas sim à demasiada exposição e demasiada intimidade. Por mais que alguém use perfil fake, um dia pode ser "desmascarado", pois nossos rastros são muitos.
Nem aqui no interiorzão estamos blindados. Eu sigo o blog do L. justamente por se tratar de um conterrâneo, que escreve sobre a região (mas não só).
Além de um espaço público, de interação, aqui também é nosso diário pessoal. Nós escrevemos também para nós mesmos às vezes. Nos comunicamos intimamente com nosso amigo diário, apenas de forma mais tecnológica que na adolescência.
Que dilema! Ainda tenho uma chance, quando ele vier buscar a roda, se eu estiver presente...

6 comentários:

  1. Nooooooossa, não sei como te seguraste. Eu sairia logo dizendo , questionando e vibrando com o fato. Pensa bem, ainda dá tempo,rs bjs chica

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    1. Então, Chiquinha, eu iniciei o atendimento chamando-o por "Senhor", afinal estava em um ambiente profissional.
      Se eu o constrangesse, seria despedida pelo "Par-trão"!
      Vou continuar pensando no caso, se fosse uma mulher seria muito mais fácil.
      Outros beijões a ti.

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  2. Olha que coisa mais didática, Cristina!
    Nunca me tinha imaginado nessa situação! Eu que sempre defendo que blogue é um local público, onde podemos falar de tudo, com sentido ético, menos de vida íntima.
    Dá para meditar muito bem nos limites que nos devem cingir.
    Conta como resolveste a situação. É sempre um prazer ler-te.

    ~ ~ ~ Bom Domingo. ~ ~ ~ Abraço ~ ~ ~

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    1. Oi, Majo!
      Foi a primeira vez, neste interiorzão, que me deparei com um "colega blogueiro".
      Cabocla como sou, falo muito da vida cotidiana, seria estranho me expor a ele, passar endereço de blog, desviar o assunto profissional (consertar a roda).
      Ainda não houve o desfecho, ele volta quarta-feira para resgatar a roda (já pintada).
      Ótimo domingo também a ti,
      Abreijos.

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  3. Oi Cristina, não perca a oportunidade de mostrar que quem vê, também pode ser visto!
    A internet é uma grande exposição, sim!!!!
    E se a pessoa assume o próprio nome, ja é um bom sinal (amarelo... quase verde rsrsrs).

    Abração
    Jan

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  4. Ai, Jan... o cara é membro da Academia de Letras aqui do Município. Escreve muito bem, e eu nunca comentei em seu blog! Ele é um munícipe tradicional, figura quase pública. Veremos!

    Outro abração a ti.

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