1.6.14

Equilíbrio

Ontem, lendo o interessantíssimo blog da Dani, me deparei com uma novidade: com a chegada da sétima criança, ela abdicou parcialmente da "escola em casa" e colocou os quatro mais velhos na escola tradicional.
Ela demonstrou ser uma mãe de mente aberta a novas possibilidades. Optou pelo equilíbrio: nem 8; nem 80... escola e família formam um bom casamento (dizem que não há casamento perfeito). 
Tenho curiosidade pela modalidade educacional "educação domiciliar", comum em certos países como a Irlanda e Estados Unidos, pois praticamente não a estudei na faculdade, visto que no Brasil, é praticamente proibida.
Penso que tal proibição é antidemocrática. Oferecer às famílias um leque de opções, de acordo com regras sérias e apoio estatal, seria o mais correto. 
Atualmente, apenas nas aulas de "Ensino Religioso" há opção da família permitir ou não a frequência. Existem casos de circenses, comunidades isoladas, ciganos e afins, que podem exercer uma educação maleável, contudo é exceção, não regra. 
Eu morei na zona rural até os 13 anos. Era comum as famílias roceiras tentarem "blindar" as meninas, por preocupação com as coisas ruins da  escola e da cidade, apesar de que a cidadezinha em questão, a 10 km daqui, tinha e tem 4 mil habitantes.
Fui a única criança de minha turma a fazer "ginásio" (na cidade), sobretudo por este motivo (mas não só). Meu pai dizia que no mundo há bem mais gente boa que ruim, e mais coisas boas que ruins.
Fato é que um mundo novo se descortinou. Passei a conviver com o filho do ex prefeito, do delegado, com menininhas pobres como eu, de muitas outras fazendas. 
Venci a timidez e baixa estima, pois nós, da roça, tínhamos um pensamento arraigado de que tudo na cidade era melhor, inclusive as pessoas; na sexta série já havia estabelecido ali o meu local de querência.  
No final da sétima série, estava apta a desbravar. Saía da roça toda manhãzinha para trabalhar aqui nesta outra cidade,  de mais de 50 mil habitantes à época, complementando a escassa renda familiar...
Na escola, há o currículo oculto e o currículo paralelo: são as aprendizagens que ocorrem entre alunos, fora do script. São trocas de toda forma, boas e ruins, contudo as crianças aprendem mais facilmente nas trocas entre si, cheias de emoção, que nas aprendizagens formais com professores.
A principal lição que eles aprendem no espaço escolar é "como conviver" - tolerar. É desta faceta escolar que eu me lembro mais... como era bom o recreio, as "panelinhas", os cochichos durante aulas chatas!
Hoje, com o advento da escola em tempo integral, nos inúmeros cursos de capacitação, ouvimos dos especialistas que esta modalidade educacional pressupõe em partes a falência da família nesta missão.
Eles complementam o raciocínio generalizando que realmente a família mudou e já não dá conta de complementar a educação infantil integral ideal, pois os pais trabalham o dia todo.
Esta educação "ideal" compreenderia meio dia na escola, recebendo educação formal e meio dia em casa, recebendo valores familiares  tradicionais e intransferíveis, como ocorria à nossa época.
Minha própria chefe ficou assustada quando soube que seu garotinho de três anos não tinha a opção de cursar maternal em meio período, estado parte do dia com a avó, julgando importante estes dois estilos de vida.
Quando cursava pedagogia, estudei a educação espartana, vista então como algo pejorativo. Estudei nesta mesma linha de pensamento, a escola chinesa, que à época ficava com as crianças de segunda-feira pela manhã até sexta-feira à tarde.
Estudei os internatos brasileiros, à época em que se vivia nas grandes fazendas, onde apenas os ricos "internavam" seus filhos numa escola rigorosa, devido às distâncias fazendas-cidades.
Atualmente, no trabalho, tem havido a busca pelo caminho inverso, como modelo ideal de qualidade de vida: ficar mais tempo com a família, trabalhar o quanto menos possível, estender o tempo livre, criar jornadas alternativas. Não parece contraditório?
E você, se lembra de coisas boas dos bancos escolares? Estudou em algum modelo escolar diferente? Já escreveu sobre suas peripécias estudantis? Gostaria de ter experimentado outra modalidade educacional? Quantas questões...

8 comentários:

  1. Te ler é sempre muito bom e partilhas teus momentos e nos leva a viajar em lembranças! Adorei! beijos,lindo dia! chiuca

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    1. Oi, Chiquinha! Você, como eu, é da época das cartilhas...
      Hoje, os livros de alfabetização são muito mais completos e complexos, com todo tipo de texto. A mágica da alfabetização, todavia é a mesma!

      Um excelente resto de semana, outras beijoquitas.

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  2. Hummm boas lembranças você nos suscita por aqui, amiga!
    Eu estudei toda minha vida no ensino público, mas era aquele dos bons, onde a gente lutava para entrar e junto tinha o filho do médico, do engenheiro, do sapateiro ou do florista como meu pai. Era uma delícia, a gente ia com vontade para a escola e lá aprendíamos lições diferentes que a família dava em casa, e aí juntávamos as duas coisas e tivemos uma geração mais equilibrada e que ajudou o país a crescer.
    Hoje, vejo com descrédito tudo isso, mesmo que alguns professores brilhantes como você, se esforcem no ensino acadêmico, mas não encontram o respaldo com a família para quando a criança vai pra casa e precisa de bons exemplos e companhia para realizar seus deveres de casa. Os pais hoje estão absorvidos em ganhar dinheiro e ir pra Disney nas férias com os pimpolhos, poucos dão seu tempo no dia a dia para os filhos.
    Noutro dia li um comentário interessante de uma mulher que mora na Holanda em que dizia que lá, as crianças pequenas, têm um dia na semana para ficarem com seus avós, a fim de aprenderem com eles ou dividirem alegrias. Achei isso tão bacana, tão humano.
    Ótimo tema, daria pra falar um monte de coisas se fosse pessoalmente, mas na escrita ...
    um beijinho carioca e bom domingo!

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    1. Olá, Alfazema! Então seu pai era florista... tudo explicado!

      Dizem os especialistas, que a educação em tempo integral é um mal necessário, fruto do século XXI.
      Nesses mais de 20 anos que trabalho com crianças, temos alunos oriundos de creches (período integral) e alunos oriundos de escolinhas em meio expediente.
      Fato é que aqueles criados em creches são muito mais extressados e rebeldes que os demais.
      Apesar deles terem estado na escola o dobro do tempo, geralmente estão mais atrasados que os outros em alfabetização.

      Grata pelo elogio, que estendo às colegas, pois tentamos fazer nossa parte.
      Outro beijão, tenha uma explêndida semana.

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  3. ~
    ~ A sociabilização é muito importante na educação infantil, mas devia ser aplicada progressivamente e planificada por etapas.

    ~ As minhas melhores recordações escolares provém dos recreios.
    ~ O ensino era muito fechado na sala de aula, não havia aulas no exterior, nem visitas didáticas e passeios, só me lembro de um, já no liceu, que corresponde ao vosso ginásio.

    ~ Por aqui também há o hábito dos pais descarregarem as crianças na escola e demitirem~se dos seus deveres como educadores.

    ~ Apesar da vida complicada dos pais trabalhadores, tem que haver uma melhor parceria entre a família e a escola.

    ~ Que sorte tiveste por ter um pai bondoso!
    ~ O teu percurso é de uma valente lutadora.

    ~ ~ ~ Grande abraço. ~ ~ ~

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  4. Boa tarede, Majo!
    Algo que iniciou-se neste ano letivo no Município foi a educação integral desde o maternal. Crianças de 3 anos ficam na escola das 7 h 00 às 17 h 00 - tempo demais assim de supetão!

    Passeio também nos proporcionam raramente. As crianças adoram o recreio, aula de informática e educação física, que eu própria ministro. No mais, fazemos jogos e brincadeiras em sala.
    Pais e escola necessitam mesmo unir-se em prol da criança. Quanto a meu pai, adorava criança - todas. A minha infância foi carente, contudo eu não fiquei estacionada lá.

    Abreijos a ti.

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  5. ~ Das 7 às 17h!!

    ~ Que coisa horrível para qualquer nível etário, mas para o pré escolar, é violento!!

    ~ Fazem as reformas sem pedirem a opinião dos agentes educativos.

    ~ O ensino tem de ser diferenciado e adaptado à realidade da comunidade onde está inserido. O que serve para uma favela, pode não servir a uma pacata cidade do interior.

    ~ ~ ~ Beijos. ~ ~ ~

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  6. Oi, Majo!
    Esta é uma cidade de poder aquisitivo médio, nem temos favelas. Concordo contigo quanto ao exagero.
    Os pais deveriam ter opções de carga horária na educação infantil, inclusive quanto ao números de dias semanais a frequentar, para os menorzinhos.
    Parte deste dinheiro poderia ser usado numa "creche de idosos" por exemplo, tão necessária e inexistente.

    Grata pelo apoio.
    Grande beijo daqui também.

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