15.8.14

Suicídio

Diante dos últimos acontecimentos hollywoodanos, há que se debruçar sobre um tema tão carregado em preconceitos e controvérsias.
Excluindo-se aqueles descabidos casos de honra, possivelmente uma pessoa não tira a própria vida em si - o que ela pretende retirar é a agonia extrema que a aflige e consome.
Esta agonia tanto pode ser desencadeada por uma dor física dilacerante e contínua, a perda de um ente próximo, doenças psíquicas como depressão, consequências geradas pela dependência de substâncias e outras causas que algum psiquiatra possa melhor esclarecer.
Aos seis anos, meu filho tinha um amiguinho com surtos de melancolia. Ele (meu filho) o chamava para brincar e o garotinho respondia:
_ Deixa só esta tristeza passar, daí a gente brinca...
Eu compreendi este fenômeno cerebral que pode desfechar-se em suicídio a mais de 15 anos, quando trabalhei como conselheira tutelar.
Uma mulher cujo sobrinho era dependente químico, foi acusada pela irmã de ser desequilibrada, de tentar suicídio por diversas vezes e afetar a personalidade do garoto. Ela era depressiva.
Conversando em particular comigo, esclareceu que não queria morrer, ansiava por alguma réstia vida; apenas tentava matar aquela angústia profunda que a acompanhava dioturnamente. 
O ato de realizar cortes rasos na região próxima ao pulso esquerdo não significava tentativa de suicídio - era uma maneira de sentir outra dor senão aquele martírio, de esquecer momentaneamente aquele tormento e sofrer com um incômodo físico, palpável, concreto e principalmente controlável.
Os cortes mais profundos eram em razão da demora em abstrair-se da depressão, da demora em penetrar no mundo real, de dores com significância. A hemorragia decorrente dessa profundidade fazia com que a irmã pedisse socorro médico, e daí o mal entendido geral. 
Ela mesma custou a tomar consciência de que amava a vida: não aquela, mas uma vida minimamente vivível, passando então a manter um maior controle sobre os cortes naquele braço axadrezado de cicatrizes.
A vi esta única vez, e demonstrei minha compreensão e respeito por seus mais profundos sentimentos. Já esqueci sua fisionomia, contudo nunca me esquecerei de sua lição de vida e sua garra por detrás de tanto desalento. Uma grande mulher...

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