2.9.14

Capitalismo

Estando em S. Tomé é impossível não repensar nosso estilo de vida numulário, focado no tempo e no dinheiro. É lógico que parte da cidade vive do turismo e é notório que outra parte vive da extração da pedra mineira (depredando a natureza), pivô da existência da cidade.
O que também fica claro é o estilo de vida alternativo dos famosos bicho-grilos imperando em cada esquina. São homens, mulheres e até crianças (deles) num estilo de vida fora dos padrões formais. São calmos, leves (anoréxicos), com roupas surradas e ripongas.
Vários são adeptos da "erva", contudo numa filosofia holística e natureba, de pura paz. Possuem voz e gestos lentos e são atenciosos. A higiene pessoal é precária e geralmente não cortam cabelo, não fazem barba.
Ao conversar, possuem um discurso super descolado, com ideias vagas centradas no universo. Puxei prosa com um deles, que me deu uma senhora aula de astronomia mesclada a astrologia e cristianismo alternativo. 
Este, como eu já previa de visitas anteriores, não aceita ser fotografado, crendo que aquele momento será furtado pelo aparelho primitivo(?), afetando sua aura e fragilizando-o. Respeito. 
Ele me disse ser nativo de lá, e que viveu muito tempo em São Paulo (capital), trabalhando também em gráficas na minha região. Suas vestes eram maltrapilhas, olhar vago, por volta dos 50 anos de idade - Pedro.
O dono do hotel onde ficamos é ex prefeito e falou de como esta questão afeta a política local. São seres não hospedados, que vendem artesanato ou cantam na noite - não esmolam. Chegam a dormir em 15 pessoas num quartinho qualquer.
Possuem o direito de ir e vir, contudo por vezes abusam do direito de permanecer. Em nossas andanças pelas imediações rurais, não vimos nenhum deles; aparentemente ficam circunscritos ao núcleo urbano minúsculo.
Ao jantar no restaurante, um deles fez capela com o violão, explorando sobretudo Raul Seixas; passou o chapéu de mesa em mesa. Disse percorrer 3 a 4 estabelecimentos por fim de semana. Trajava uma calça verde-bandeira tipo pijama, sandália e blusa em lã rustida. Cabelos longos com rolinhos, e barbicha. Contava uns 35 anos, magérrimo e cheio de mansidão.
Lá se toca muito reggae, música de meditação com flauta, estilo Zé ramalho e outras músicas não midiáticas (tipo as desconhecidas de Raulzito).
De manhãzinha, no parque, ouvimos vozes femininas e pensei ser um grupo oriundo do camping. Eram quatro delas voltando de uma noite de sono entre as pedras, embrulhadinhas em edredons. Todas jovens e bonitas. De longe, fiz contato e pedi foto. Autorizaram sorrindo e dando sorte por estarem longe, desgrenhadas.
Estão escondidinhas lá no alto da foto; mantive a distância para dar a real clareza de onde dormem, no parque sob grandes lajes. Foi superior interagir com elas.
Para vê-las de perto, copie a foto e cole no word, em paisagem.
   
Desta menina eu furtei a foto com zum, estava com o gatinho, olhar perdido desde que vínhamos lá de cima, parecia nem ter forças para movimentar-se. Fomos ao mercado, visitamos a pedreira e só quando voltamos é que saiu com um grupo, arrastando as malas. Deixavam a cidade para algum outro ponto. Pelos apetrechos, creio que ela faça parte de um grupo de malabaristas que estavam nos pontos turísticos. 
 Este é o "Portal dos Ventos", um mirante natural no parque com vista deslumbrante, contudo estava uma cerração matinal incrível devido à altitude em torno de 1.500 m.
Há três pontos artificiais que não me agradam atraem nem um pouco; tiram a naturalidade perfeita do parque: o mirante (visto ao alto da última foto), o cruzeiro e a pirâmide. Sem contar que servem de urinatórios a céu aberto.
São tomé necessita urgentemente de sanitários públicos, pois a gruta central, linda e super alta, também serve de "descarrego"; sem contar os dejetos dos cães que são inúmeros por lá e tornam os passeios a pé aventurosos.
Houve queimada por estarmos no auge da seca, porém a simbologia (círculo entre os morrinhos) foi preservada. Outras desta há no parque para fins de meditação e sintonia com o universo.
As torres de telefonia deveriam ter sido instaladas noutro morro, na pedreira, contudo o capitalismo não permite...
Aquela velha história: tanto nós quanto os "bicho-grilos" morremos de inveja pena uns dos outros.

3 comentários:

  1. ~ ~ Em tempos, tinhamos muitos desses seres andarilhos, por cá, durante o Verão. Agora vejo-os menos. Será que há uma melhoria no auto controlo do uso de estupefacientes, ou também é devido à crise?!
    ~ ~ Não faço a mínima ideia.

    ~ ~ ~ Voltaram as nuvens...

    ~ ~ ~ ~ Abraço nublado. ~ ~ ~ ~

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  2. Por aqui, eles procuram cidades assim, exotéricas ou pequenos polos turísticos onde possam comercializar o artesanato.
    Quanto ao controle de entorpecentes, infelizmente não creio haver, mas não percebi em S. Tomé usuários de crack - esses são perigosos e estão virando epidemia em minha região.
    Os das nuvens ficam tranquilos na deles, mas os crack dependentes nos confrontam, nos furtam, nos matam até - um crescente pavor. Uma vizinha viajou e na volta encontrou a casa vazia: furtaram até lingerie

    Abração de céu azul

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