28.9.14

Desperdício

Consumimos desmedidamente num Planeta que passou a comportar cerca de 7 bilhões e meio de pessoas.
E não falo apenas da toxidade dos esmaltes, maquiagem, tinta de cabelo. Tenho conhecidas que não ficam 1 dia sem esmalte; pintam cabelo religiosamente a quatro semanas; usam maquiagem até em sol escaldante. Se pensarmos nos riscos da toxidade, poderemos ser mais naturais, limpas.
Pensamos tanto na limpeza da casa, da roupa, nos banhos assim e tal, em alimentos limpos de toxinas, saudáveis. Nos preocupamos com o funcionamento correto dos intestinos para estarmos limpos - de corpo e alma.
E toda essa sujeira a que nos impomos em nome de uma ditadura da moda, da beleza, do enquadramento num perfil estético? Agimos sem ruminar, gastamos horas e dinheiro nessa verdade incontestável que nos condiciona.
E o esbanjamento que era restrito a roupas, calçados e acessórios, agora estendeu-se a utensílios domésticos, móveis, carros. Ninguém mais se senta numa máquina de costura para revitalizar peças de roupa "cansadas". Sapateiro? Deite ao lixo e compre mais... acessórios então, são descartáveis.
De madrugada, quando saio para pedalar com o meu Par, vejo meninas voltando a pé de festas, com sandálias altíssimas à mão. Descalças e pisando doído no asfalto crespo e sujo(?). 
Já vemos nas caçambas aqui do interior, móveis e eletrodomésticos seminovos. É mais prático descartar do que escolher alguém para doar, levar até lá... e a pessoa pode até se ofender, achar que tá sendo chamada de pobre!
E onde vamos desovar tanto veículo que se acumula nas garagens, inúmeras revendas de seminovos, abandonados em via públicas, enquanto outros tantos exemplares são fabricados a cada ano?
Dizem os cientistas que até meados de 2070, pelo menos, a população continuará crescendo, chegando a quase dez bilhões. Caberemos nesta judiada nave, se o consumo diminuir? Porém, qual a chance de diminuir? Esse jogo de forças entre consumo/ economia e ambientalismo vai longe...
Desperdiçamos metade de um pé de alface, por exemplo. Os talos podem ir para um suco verde, ser refogados no arroz. A casca da banana pode compor um bolo integral, suco verde novamente, farofa. 
Eu estava na papelaria fotocopiando aqueles documentos para aposentadoria, que citei, e a balconista mãe de minha ex aluna entregou R$ 3,00  para a colega comprar um suco "natural" de garrafinha. Perguntei se ela sabe o valor d'uma dúzia de laranjas. Não! Com o mesmo valor compraria 24 unidades, levando de lanche da tarde por 24 dias úteis. Uma laranja picadinha e uma banana fornecem lanche rico e barato.
E a água? Aqui no interior, a água da torneira é corrente e tratada (nem fica em represa),  vindo diretamente do rio que escorre pelas encostas da Serra da Mantiqueira. É só usar uma torneira com filtro, contudo conhecidos meus compram água.
Aquela água engarrafada. Água parada que está a meses viajando de entreposto a entreposto, torrando ao sol sobre um caminhão na estrada, acumulando resíduos tóxicos do plástico. É melhor que nossa água corrente, pois é "mineral", é chique. Existe água vegetal ou animal? Água é em essência um mineral. 
Quando se viaja à Europa, vem-se elogiando a água "superior" direto da torneira, servida por lá. Vai entender...
Chique é ser simples, saudável, valorizar produtos locais e respeitar a Nave Mãe. Chique é se impor e ter atitude; é economizar o rico dinheirinho para gastá-lo inteligentemente. Uma boa forma é aproveitar a água da chuva, investindo o dinheiro de forma eficiente e duradoura.
Eu faço uso do aprendizado de infância para resgatar alimentos que caíram de moda e são orgânicos. Saio de moto com o Par pelas estradinhas ou trilhas das imediações e faço recolecção de beldroega, trapoeraba, picão, azedinha, erva de fazendeiro, serralha, caruru, limão cavalo, folhas de goiabeira. Higienizo e guardo em geladeira (parte eu congelo), garantindo suco verde variado e sem agrotóxico por dua semanas.
Também frequento a lojinha da igreja onde minha mãe é voluntária (brechó), tanto doando quanto comprando produtos usados; sei costurar e tenho imaginação. Um forro de carrinho de bebê vira belo tapete, assim como pernas de calças; chapéu vira cachepô para flores; cachecol vira novelo de lã. E meus alunos carentes fazem a festa! 
Sempre aceitei, e agradeci muito por doações de amigos e parentes, tando de roupas quanto de utensílios domésticos. Falo de boca cheia. Não sou tão pobre que não possa comprá-los, contudo não sou tão podre de espírito que não possa aproveitá-los.

10 comentários:

  1. Olá, querida Cristina
    Fui a uma festa de 15 anos com roupa do brechó... mas em perfeitíssimo estado,claro!!!
    Sem nenhum embaraço da minha parte...
    Aprendi a ser mais humilde no trabalho voluntariado e conhecendo gente de todo tipo... pobres soberbos e ricos humildes...
    Fui responsável pelo Bazar da Igreja um tempo e nunca vendemos tanto e também comprava e doava, como vc...
    Gosto muito de aproveitar e tenho meus potinhos com talos para omeletes e outros...
    Confesso que não fui sempre assim e só há pouco tempo meus olhos foram abertos para isso... tanto que meus filhos não desperdiçam nada mas também não reciclam... doam, pelo menos...
    Desde a adolescência da filha, ela se acostumou a andar com roupas novíssimas de bazar que recebíamos ainda com etiquetas vinda da capital... era só lavar e usar e não tinha moda em primeiro lugar...
    Eu já reciclo e creio que, com a maturidade, todos vamos melhorar e muito... em muitos aspectos...
    Excelente post!!!
    Bjm florido e ótima semana!

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  2. Parabéns, Rosélia! o Planeta agradece.
    E as roupas de lojas convencionais são experimentadas por tanta gente, usadas e devolvidas para troca, que dá na mesma.
    A água quente da máquina de lavar esteriliza, e as pessoas que frequentam esses locais beneficentes formam quase um banco de trocas - doando e também comprando. São duas formas de ajudar a Pastoral da Saúde (no meu caso) e também o Planeta.
    Já comprei excelentes livros em brechós, pois aqui não há sebos.
    Omelete de talos é supimpa!
    Na zona rural, não gerávamos lixo. Tudo era reaproveitado, fosse para nós, fosse para animais domésticos.
    Sua filha é antenada e descolada. Está no caminho certo, não é uma mulher alvo de consumismo.
    Grata pelo apoio a este tema, ainda controverso.
    excelente semana também. Beijão fraternal

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  3. Que texto, Cristina! Maravilhoso e inspirado.

    Concordo em número e grau com você. Ah, se todos pensássemos assim. Eu mesma já voltei com o salto altíssimo na mão. Já cansei de jogar fora sapatos que só usei uma vez. Agora não passo mais aperto. Há anos não sei o que é usar um salto (até pelo peso). Hoje uso tênis variados e são meus melhores calçados: confortáveis, simples e ainda combinam com meu estilo atual. Tenho três: um velhíssimo precisando ser jogado fora, amarelo já, um de caminhada e um preto "de sair", bonito. Esse último, maior que meu pé, pra não correr risco de não ser usado. Con-for-to.

    Tenho pensado bem mais no lixo que eu produzo. O que dizer? De uns anos pra cá, tenho pensado mais em tudo. Estou uma pessoa tão melhor que quero me abraçar e até me gabar por isso. Estou muito orgulhosa de mim. (E de você)

    Adorei seu texto. Sempre boas leituras aqui :') Um beijo!

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    1. Então, Companheira, vamos revendo e evoluindo...
      Tênis preto é maravilha - dura muito mais, não aparece sujeira, está sempre belo. Amo usar tênis!
      Eu também estou orgulhosa de ti, com tanta atitude e empoderamento!

      Outro beijão

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  4. ~
    ~ ~ Mas Cristina, eu uso tinta de cabelo natural e biodegradável...
    ~ ~ É tudo uma questão de atitude.
    ~ ~ As horríveis cascas de banana, todas as outras e restos vegetais deveriam ser usados como adubo. Como seria possível tornar terrenos produtivos, se houvesse uma recolha organizada para uma compostagem comunitária.
    ~ ~ É muito importante fazer a divisão dos lixos, coisa que, por aqui, está a ser muito aceite pela população bem formada.
    ~ ~ As prefeituras deviam ter um barracão para depósito do que é aproveitável...
    ~ ~ É preciso, mais do que tudo, vontade de aproveitar e reciclar e ela só se consegue com mentalidades bem formadas que, por sua vez, só são possíveis pela educação e formação.

    ~ ~ Há muito que fazer e cabe aos educadores o papel preponderante.

    ~ ~ ~ ~ Beijinhos da amigona. (Bem formada.) ~ ~ ~ ~

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    1. Ah, Majo, a reciclagem existe a pouco tempo por aqui (pelo poder público) e ainda é sofrível. Toda segunda-feira passam em minha rua.
      Faço compostagem num vaso velho, mas já está saturado e na rua não há mais terrenos baldios...
      Um barracão ou feira de trocas é ideia antiga, contudo não sai do papel. As lojas de usadas fazem um bom trabalho.
      Devagarinho vai-se caminhando... e parabéns pela boa formação!

      Bjs amigos

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    2. ~ ~ Não tinha intenção de parecer soberba!
      ~ ~ Agora ao reler, percebi que fui imprudente.
      ~ ~ Não tenho nada de pedante ou presunçosa.

      ~ ~ ~ Abraço muito amigo. ~ ~ ~

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    3. Bobinha! Só as pobres cascas de banana é que ficaram magoadas contigo...
      É que aqui no interior as coisas vão mais devagar. Nem xampu tonalizante natural encontrei. O jeito é usar menos vezes.
      Ah, pensando em você, a uma semana introduzi o azeite extra virgem (português) no suco verde. Devagarinho me acostumo com o sabor marcante.

      Amigável abração

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  5. ~ ~ O abacate e o coco são mais saborosos.

    ~ ~ Esta é a receita de suco verde da "net", que acho mais interessante, mas necessita algumas alterações.

    ~ ~ ~ https://www.youtube.com/watch?v=kxQPpRYK4PE

    ~ ~ ~ Faz o suco de vegetais, passa por um passador de ralo grosso, depois acrecenta o mamão, abacate ou coco, mel ou rapadura, uma pitada de sal e as aromáticas tenrrinhas (como a hortelã, alfavaca, etc,). o colagénio e volta a bater.
    ~ ~ Quem não toma pequeno almoço, um pedaço de tubérculo e as proteínas dos geminados ou a levedura de cerveja em pó, são importantes.

    ~ ~ ~ ~ Abração. ~ ~ ~ ~

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  6. Adorei o vídeo, Majo! Não sabia de tantas vantagens da clorofila.
    Eu ainda não cheguei ao estágio do suco de luz, pois acrescento água sem pudor. Também ainda não germino sementes, mas tomo meu suco sem coar.
    Agora estou familiarizada com o azeite português extra virgem para as lipossolúveis. Limão e gengibre também não faltam.
    Só o fato de continuar tomando a quase um ano já é lucro para mim. Espero não enjoar, pois sinceramente não é tão palatável.

    Grata pela dica, outro abraço

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