13.9.14

Lacuna

Deu tudo certo, e fui ao casamento lindérrimo que citei. Os noivos ensaiaram uma dança super profissional, pois são fisioterapeutas e ela fez dança na infância. Muito luxo, cerimônia leiga sob mangueiras centenárias,onde o mestre de cerimônia arrasou; manhã de céu vidrado e brisa. Os noivos terão dez dias de lua de mel em Cancún e nós aproveitamos ao máximo.
Aliás, desde chás de bebês, festinhas de um aninho, os eventos estão se sofisticando muito ultimamente. Uma veste completa de criança chega a um salário mínimo! E nem sempre a classe social conta... 
Juntamente com toda a sofisticação, tem-se notado também a terceirização de tarefas que eram básicas em minha época de adolescente: uma mocinha fazia a própria unha, maquiagem, sobrancelha, alguém na família lhe cortava o cabelo e costurava-lhe roupas (eu fazia as minhas).
Com nosso salário (porque trabalhávamos desde muito cedo), ajudávamos em casa, aprontávamos enxoval, investíamos em algo útil. Eu comprei este terreno aqui de casa em sociedade com o Par - tinha 18 anos e meio, pagando à vista e sobrando.
A jornada de trabalho era de 48 horas, mais horas-extra. Estudávamos à noite e fazíamos faxina para a mãe aos sábados. Minha geração toda (de classe baixa) era assim. 
Hoje se financia tudo, até roupas e calçados, vivendo no futuro e acumulando inúmeras parcelas de cartão. Não se reforma um vestido de festa, não se pede aquela sandália da moda emprestado à prima, não se improvisa um penteado caseiro.
Com o casamento, os casais se vêem perdidos, sem saber faxinar, lavar à máquina, passar à ferro, cozinhar. Não possuem a menor organização doméstica: não sabem de quando em quando se tira roupa de cama, se lava banheiro,  se cozinha feijão. 
Passam a comer fora ou improvisar porcarias, necessitando acordar mais cedo (e não o fazem) para preparar o café / lanche, tirar o lixo, ir à feira, dar uma organizada. E cabe ao casal a empreitada, sobretudo porque geralmente ela trabalha fora também.
Fato é que nenhum se prepara de antemão, e há moças que se orgulham em nunca ter lavado uma panela de pressão, nunca ter feito legumes no vapor ou tirado o pó dos móveis. E o estresse se instala, pois a faxineira não faz tudo e se vê que os patrões são leigos, folga geral. 
Sem contar que faxineir@ custa cada vez mais caro e já não dá para chamar toda semana, com o inconveniente de botar um estranho em casa que no mínimo pode quebrar coisas, mudá-las indevidamente de lugar, assaltar a geladeira...
Minha geração financiava os pais desde a pré adolescência, e com o casamento trabalhou fora e dentro: ela cuidando dos afazeres e ele fazendo reparos (melhor seria se os dois fizessem tudo junto); hoje financia os filhos já adultos - a tal geração y que estuda sem parar.    
O mundo corporativo cada vez mais acirrado, exigindo tanto desses jovens e pagando menos, suga o tempo de um casal que poderia estar mais cedo em casa a aprender junto a cuidar-se devidamente. A internet ocupa boa parte de seu tempo livre e a bagunça vai se acumulando, ganhando corpo... criando dependências, deficiências que atrapalham a convivência e até sobrevivência saudável.
Parece haver em nosso cérebro ainda pré-histórico, uma necessidade organizacional de delimitar funções masculinas e femininas. Para tapar esta lacuna, certas profissões assumem gradativamente o papel: professor infantil e fundamental I, fonoaudiólogo, psicólogo, nutricionista, etc.
Aqui no interior, muitas professoras, sobretudo as que dobram período (dois cargos) têm proventos muito acima do esposo e nem por isso um deles migra para a educação. Então não se trata de questão salarial e sim meramente cultural.

8 comentários:

  1. Que bom que o casamento foi legal. Hoje tantos são os preparativos e gastos com ele, né? No meu tempo, simplicidade e acho que até por isso, duravam mais,rs bjs, tudo de bom,chica

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  2. Foi um sábado memorável, Chiquinha!
    Espero mesmo que seja eterno, pois este casal é atípico, muito batalhador. Ambos começaram muito novinhos no mercado de trabalho.
    Eu me casei com um vestido emprestado. Servi batata e pão com carne moída; somente o bolo por sobremesa. A bebida era limitada...

    Semana excelente procê

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  3. ~ Foste longe, Cris e isso é que importa.
    ~ Foi bom saber que te divertiste.
    ~ ~ ~ Abraço muito amigo. ~ ~ ~

    Ps - Estou de visita a uma tia doente.

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    1. Desejo melhoras à tia, Majo.
      Enquanto eu me divertia, fazia ponderações sobre como a juventude está mudando... creio que em 50 anos teremos uma sociedade toda remodelada.

      Até breve!

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  4. Oi, Cristina!
    Sou anti essas superproduções, ainda mais quando a família é sacrificada por puro capricho. Não quero minguar o casamento, mas tanta produção e não sabemos quanto tempo vai durar o casamento. Tomara que dure a vida toda!
    Realmente, Cristina... Você é bem observadora. Se a família é a célula da sociedade, os pais devem ter mudado o modo de criar os filhos. Lembro de uma época depois da geração paz e amor, que não se podia fazer nada que, poderia traumatizar o filho. Enfim, vivemos em um mundo de especialistas, todos possuem phd em alguma coisa, no entanto, trabalhar com as mãos está se tornando raro. Não temos robôs para tanto, que dirá para um afago, um amparo...
    Beijus,

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    1. Adoro suas considerações, Luma!
      Vejo que as embalagens estão mais caras que os presentes...

      Achar um contraponto entre permissividade e limite, mesmo nos gastos juvenis se faz necessário.
      Os casais não sabem mais pintar uma casa, fazer uma boa faxina. O pior é que em breve não terão também grana para pagar pelos serviços, cada vez mais onerosos. Veremos.
      Falando em amparo, os idosos que viviam com familiares, já estão ficando sozinhos; todo mundo adere à filosofia individualista do "Ema, Ema".

      Beijão de cá procê também

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  5. Você tem uma visão realista do que está acontecendo com nossa juventude, Cristina. Ainda os que estão na faixa dos 30 e poucos anos lutam com a nova realidade, de não ter quem lhes faça tudo. Por outro lado, há mães que se desdobram para cuidar de suas casas e ainda ajudarem as filhas, perdidas no meio dos afazeres que existem e precisam ser vencidos todos os dias. Ensinei tudo às minhas filhas e embora sejam jovens mulheres que cresceram com empregada em casa, sabem se virar muito bem. O filho, tb, surpreende como marido e pai, dividindo tudo com a mulher. Nós, mulheres, mães, temos que ensinar aos filhos o básico e eles que se aprimorem, né? rs
    Tudo que vc falou descreve muito bem o que é a vida de hoje e como era melhor tempos atrás...Mesmo com todas as facilidades de hoje, já fomos muito mais felizes. rs
    Beijo.

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  6. Verdade, Lucinha, as facilidades de um lado e as altíssimas exigências de outro.
    As professoras "jovens casadas" com quem convivo, se desdobram em dois empregos, comem besteiras no almoço enquanto o marido almoça na casa da mãe; em fins de semana não sabem se cuidam da casa ou da preparação de aulas.
    A mais de vinte anos, quando comecei a trabalhar em escola, muitas professoras tinham empregadas domésticas. Hoje, nem faxineira toda semana...

    Beijão também de cá

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