Telúrica

Acima, eu na saída da caverna Sobradinho, com filete d'água ao meio. Só me emboquei alguns metros, não percorri de entrada a outra.
Abaixo, sentada sob a pinguela - andar sob esta estrutura é fácil, sentar-se é mais radical devido ao precipício sob os pés.

Um passeio a S. Tomé requer energia e mente aberta. Ser natureba é fundamental, pois as atrações encontram-se quase todas na zona rural: são grutas, cavernas e cachoeiras com águas cristalinas que exigem roupa rústica e calçado resistente, boné, lanterna, água potável e protetor solar. 

No tempo das chuvas a emoção é maior. Próximo às principais atrações há sempre um restaurante com venda de artesanatos e algum guia tentando fisgar turistas, porém quem estudou antes ou já esteve, não necessita ajuda, basta ter um mapa e pedir informações aos locais.

Todas as atrações estão próximas aos cursos d'água e matas ciliares, portanto vê-se de longe com certa habilidade, todavia as bocas de cavernas estão ocultas sob arvoredos, sem placas. Tino roceiro por parte de um dos integrantes é aconselhável. 

Muitos casaizinhos jovens vagam por aqueles ermos sozinhos, contudo é preferível no mínimo dois casais, pois acidentes podem ocorrer nas pedras e há até a possibilidade de se perder devido à falta de sinalização; risco de bandidagem parece não haver.

Na gruta do labirinto, um turista estranho nos emprestou seu celular para usarmos como lanterna. Saímos  e não o vimos mais. Ele reapareceu mais tarde noutra saída bem longe, então fomos lhe devolver o celular e agradecer a total confiança. O clima local induz a estes gestos.

A cidadezinha em si, se vista num todo, não passará de uma favela à ponta d'um morro - um queijo suíço literalmente. Há que se observar minuciosamente os detalhes para se captar a magia e poesia incrustados nos pequenos detalhes. 

Os três públicos coexistentes são os nativos que tocam a cidade, muitos descendentes de ex escravos; os alternativos/hippies/exotéricos e os turistas geralmente jovens com pouca grana.

Em quase todo imóvel há uma pequena pousada ou casa/cômodo para alugar. Acampar também é comum, inclusive na região rural. Tudo ali é de pedra mineira: imóveis, artesanatos, sopas, pavimentação das ruas, fonte de trabalho/renda.

Eu, telúrica que só, me sinto absolutamente em casa. Sem contar que Minas é minha paixão, lá eu desacelero, sinto o relógio batendo mais devagar, aspiro a caipirez singela das pequenas comunidades como o distrito de  Sobradinho. Por lá se vê placas do tipo "É proibido amarrar cavalos".

Foi em Sobradinho que reabasteci o galão d"água numa torneira gratuita atrás da igreja - água devidamente tratada pela COPASA. Eu evito "água plástica" o máximo possível.
Aliás, todas as atrações são gratuitas, visitamos três grutas/ cavernas e seis cachoeiras, sem pagar um tostão. Nem no parque se paga entrada, tudo bem que lá só tem pedras, vegetação endêmica e vista magnifica, porém eu pagaria.

As cachoeiras foram: de Sobradinho, do chuvisqueiro (perto do pico do gavião e isolada, quase intocada), da lua, Eubiose, corredeira "Rio do Peixe" (também retirada e vazia de turista), das borboletas (mais lotada). Outras tantas ficaram para a próxima, por falta de tempo. A falta d'água revelou as costelas pedregosas nos leitos delgados; contudo o "Rio do Peixe" está bastante caudaloso.

Fomos até Poços de Caldas, aqui perto, e seguimos sentido Varginha por estradas boas, contudo mais calmas.