27.11.14

Sensações

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Da minha infância roceira, guardo muito bem o límpido céu estrelado, com seu Caminho de Santiago (Via Láctea), as três marias (cinturão de Órion), a "galinha dos sete pintinhos" (constelação Cão Maior), a estrela d'alva ao clarear do dia (Planeta Vênus), a nítida lua branca passeando de leste a oeste.
As estrelas cadentes e os relâmpagos com nuvens de tempestade eram um caso à parte. Cadê as tantas luzinhas que xispavam o tempo todo, cruzando o céu em qualquer direção? E aquelas nuvens carregadas, feito naves sombrias atirando raios mortais prá depois desaguar escandalosamente, formando rios momentâneos montanha abaixo?
Morando numa montanha defronte à outra bem próxima, eu tinha a visão do vale abaixo, e no seu mais profundo o rio escorregando sentido nordeste a sudoeste. E acompanhando o rio, a rodovia, agora com pavimentação asfáltica e a ponte nova trocando as duas serpentes de lugar.
A visão das paineiras de verão, manchas rosa pincelando as matas: quarenta, cinquenta delas, e na beira da estrada o tapete de pétalas... E as lixeiras em setembro (Aloysia virgata) branqueando e perfumando a borda de capoeiras. Ah, esse perfume de infância, de plenitude, de serenidade! 
Guardo com nitidez os tons de verde e castanhos, os muitos aromas e sons da mata, o ruído de folhas secas e galhinhos se quebrando sob nosso tropel. Pássaros, muitos; e ninhos artísticos, e ovos de tamanhos, cores e pintinhas.   
A textura e refrescância gelada do sereno aglomerado nas folhas de grama. Aquela trilha fininha com o sereno nos beijando as canelas nuas, aquele brilho prateado, com gotas obesas enquanto o sol ainda tentava romper a montanha.
A textura da fruta no pé e sua beleza feito árvore de natal, o néctar temperado, as bicadas de passarinho na fruta mais bela, aquele chão forrado de frutas após uma noite de ventania, a escassa fruta temporã em meados de agosto. 
A felicidade do (minguado) encontro humano: a visita de parentes que viviam distantes, a vinda de amigos de outras fazendas, alguém sei lá de onde que aparecia muito de vez em quando naquele ermo vai-volta.
A moita de bambuzal e os muitos sacis que por lá viviam. A casinha que se formava em seu oco interior sem brotos, alto e seco, forradinho com as folhas secas se acumulando a décadas - aconchego total envolta naquele bailar constante nas longas e finas ramas que circundavam o centro oco.
A adstringência da areia fina ao fundo do regato límpido! A areia sempre a escorregar, a abraçar, a se mover. Os passeios por dentro do regato e as lindas folhagens viçosas das margens e o barranco e a pinguela, e os peixinhos barriga-podre espelhando os raios de sol.
Os bichinhos silvestres que por lá perambulavam, os predadores, nossos animais domésticos, insetos, assombrações.

2 comentários:

  1. ~ O isolamento contribui para que se aprecie melhor a natureza.

    ~ ~ ~ Beijos amigos. ~ ~ ~

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  2. Quantas cenas da vida silvestre presenciei! éramos tão acostumados ao mato, que nunca me feri gravemente, nem quebrei um osso sequer...

    Abreijos procê também

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