6.12.14

Reta final

Mais duas semanas de aula, sendo que na última as crianças minguam. Raras vezes eu fui sorteada com uma turminha tão perfeita. Coração apertadinho... Melancólica...
Antigamente tínhamos mais de 30 alunos em sala - literalmente um depósito de crianças. Em 2011 tive 29 num 2º ano, sendo que dois eram T. D. O. e passavam o tempo todo atormentando os demais (e a mim).
Abaixo, parte da minha turminha de 22 alunos num jogo com dados. No curso do MEC fomos orientadas a bagunçar as bolinhas do dado, mudando a marcação clássica, onde o resultado era decorado. A turma tem um probleminha a mais.
Um trabalho em quarteto. Grupos maiores assim devem ser explorados apenas antes do recreio, senão vira bagunça e o serviço não rende.
Na maior parte do tempo, trabalho com duplas produtivas, onde ambos possuem algo a contribuir entre si. É um excelente arranjo para esta faixa etária.
A garotinha da mesa branca é portadora de nanismo: 88 cm de estatura. Cheia de personalidade, vaidosa, brava e inteligente. É a mascote da escola toda - paparicada...
Adaptamos tudo para ela: esta carteira menor; sua sacolinha no varal mais baixo (veja lá no fim, letra V); vaso sanitário infantil; uma torneira mais longa no bebedouro.
Evitamos ajudá-la além do necessário, porém ontem fomos no quintal ver a lua branca e estava grama alta. A peguei no colo e uma funcionária viu; ele sentiu vergonha e me admoestou severamente - não gosta de parecer criancinha.
Esses três aí da frente e mais dois que faltaram ainda não se encontram totalmente alfabetizados. Todo ano alguns vão mais devagar, apesar dos esforços: atenção especial, local privilegiado, reforço no horário oposto, momentos de atenção individual.
Das cinco crianças, duas tiveram quase 25% de ausências! Como podem acompanhar a turma com tanta falta de comprometimento familiar?
Dois deles dominavam o nome completo e agora não conseguem. Acontece sempre: eles decoram o nome e depois, quando avançam e escrevem com reflexão, apresentam esta aparente retrocesso.
Por exemplo: o sobrenome "Gonçalves" - a criança passou a grafar assim : GO SA V. Trata-se de uma escrita na sua fase silábico-alfabética. É difícil explicar aos pais que esta mudança é um avanço e não regressão, pois agora eles entendem o que escrevem, mesmo que ainda não convencionalmente.
É um trabalho muito emotivo: envolve doação, compaixão, reversibilidade de pensamento (se colocar no lugar da criança) trocas de aprendizagem, compreensão das individualidades, visão além do básico, paciência, paciência, paciência...
Devemos estudar sempre, pensar e executar a preparação de atividades semanais mesmo fora da escola, ter agilidade global para fazer, pensar e coordenar diversas tarefas ao mesmo tempo enquanto a turma se agita.
Precisamos ter jogo de cintura para conviver entre 45 funcionários, repartir a sala com a professora do período oposto sem invadir seu espaço, conviver com pais de alunos que detém visão de mundo variada.
Vira e mexe alguém me aborda dizendo que foi meu aluno no ano tal e sente saudade daquela época. Gratificante lapidar personalidades e inteligências, fazer minha pequena parte junto à comunidade.
Fácil? Se fosse, nem teria graça...

4 comentários:

  1. Educar é uma arte nobre e parabenizo, que com paciência e arte aliado às tecnologias se prestam neste missão.
    Parabens.

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  2. As crianças estão cada vez mais precoces; nesse ritmo, em breve estarão todas lendo aos quatro anos. Eu aos seis anos não dominava um terço do que elas dominam.
    Grata pelo apoio

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  3. Ah, que lindo! Sinto sua melancolia. E que salinha bonitinha, muito aconchegante e fofa! Que bonita a menina de franja curta. Adorei o cantinho da leitura. Deve ser bom ser seu aluno! :) Por isso, sentem falta!

    Beijo, querida!

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  4. Fiquei três anos neste espaço e vou para outra sala no ano que vem. Em fevereiro não terei tempo para dar atenção a essas crianças, pois virão muitas outras: chorosas e assustadas.

    Outro beijão a ti!

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