8.2.15

Vida madrasta

Capa livro João Abade verde


... "De cima do barranco, largou a olhada na perseguição da bichinha, levantou carreira atrás dela, pegou-a bem na saída de uns facheiros (cactos) e fez o que bem entendeu.
Como em Canudos essas coisas eram assim mesmo, Rita voltou como tinha ido e ninguém deu assunto de sustância nisso."

No livro "João Abade", página 63, de João Felício dos Santos, assim é retratado o estupro de uma menina de uns 11 ou 12 anos, paupérrima, a viver com o irmão aleijado na zona rural de Canudos - aquela da famosa guerra.

A tempos ouvi falar nesse livro que retrata a guerra numa visão dos moradores do lugarejo do "Santo". Não sabia o nome, nem autor. De posse, quase o pincho fora sem ler: livro feio, capa de cor feia, nome feio, gravuras feias... em nada me atraiu este tijolão esfarelado na edição de 1958.
Em nada, até ler o prefácio! De Raquel de Queiroz! E de cara ela cita o emblemático Vaza-Barris...
É certo que o livro é rústico, numa tosquidão a combinar com a trama: ousadamente, vai misturando narrativas históricas com belíssimas passagens literárias, como a briga entre um teiú e uma cascavel. 
O livro me deu uma sede imensa em conhecer os manuscritos originais de Julius Cesare Ruy de Cavalcanti (Vê lá se isso é nome prá jagunço?) que alicerçaram a obra: são diversas cartas e alguns cadernos (diários) citando in situ passagens da luta brutal.

4 comentários:

  1. Oi Cristina!
    Que preciosidade, hein?!
    E aqui cabe, literalmente, o adágio segundo o qual "não se deve julgar um livro pela capa"...

    Abração
    Jan

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    1. Correto, Jan! E nem pelas gravuras, coloração, estado físico, cheiro (de mofo).
      Ganhei um lote de uma amiga e separei os piores para a primaiada da roça. Quase ele vai junto...

      Abração procê também

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  2. Que legal Cris, eu não tinha ouvido sobre. Li muito sobre Canudos e assisti alguns documentários e especiais.Há muito sobre a região do tempo do cangaço e a tal Guerra desigual.
    Belo achado e partilha.
    Meu abraço.

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    1. É um ponto de vista bem peculiar, Tonin, parece até que estamos correndo pelos morros cobertos por favelas raleadas, seguidos do heroico cão "Valorosos"!

      Abração

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