1.8.15

Cisma

Por vezes vejo a vida como um regato caudaloso a rolar-nos montanha abaixo. Vai nos moldando daqui, nos desgastando dali, arrancando as arestas e nos polindo acolá.
Quantas lascas deixamos pelo caminho, quantas farpas nos espetam, quantas pedras pontiagudas nos atropelam...
Assim que o regato penetra um riacho mais caudaloso, nos sentimos menores, inseguros, vamos apalpando a fina camada de areia ao fundo - conforto! Tentamos agarrar-nos em algas escorregadias.
E o riacho mais à frente também encontra o seu grande rio; e a correnteza aumenta a velocidade da trepidação, o turvante da água nos embaralha as vistas, nos deixa zonzos.
Enquanto a grandeza da água nos envolve, sentimo-nos sem domínio sendo levados rumo ao desconhecido: Por vezes nos divertimos demais naquele parque aquático, por vezes temos belas companhia.
De vez em quando seguramos uma mão familiar e tudo clareia, tudo é brisa, todavia na curva da vida lá nos vemos sozinhos num canto do rio. E a margem tão perto, perfumada.
E rezamos por um lago sereno que nos dê tranquilidade, que nos faça sossegar, que nos traga rotina afinal. Ele está longe, lá se vê.
É mansidão, é infinito, é proteção. 
Caímos no lago. Usufruiremos do lago por tempo longo, difuso.
Numa madrugada tempestuosa escoamos pelo dique, seguimos nova viagem rumo ao desconhecido. E com o arrebol à frente temos energia, vitalidade, curiosidade gostosa.

Imagem Google

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