18.8.15

Fascínio pelo jeum

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Eu tenho uma pendência de longa data com essa milenar e consagrada aplicação do jejum. Quando criança, considerava lindo os adultos praticando, plenamente disciplinados, com semblante de serenidade.
Admirava sobretudo a avó materna, espanhola, que cumpria à risca as datas dedicadas a esta devoção, em intenção ao filho (o primogênito e mais amado dos 12) que morrera jovem.
Certa vez, inventei de querer executar também, lá à minha modinha de criança, sem muita noção de como proceder. O dia transcorria corriqueiro, quando de repente, o pai ficou sabendo!
Ao receber minha orgulhosa temerosa confirmação, ele entrou em fúria e quase me bateu, pois era contra o comportamento da própria mãe.  
Eu, sem compreender devidamente aquela controversa fúria a uma causa considerada sagrada, e devotada demais aos procedimentos da avó, bambeei desgovernada, engolindo em seco, murchinha. 
Lá fui me enclausurar por entre a aconchegante e sinistra moita de bambus incrustada na valeta erodida ...
Carreguei para o mais profundo do inconsciente aquela urdidura entalada e inacabada. Passei décadas com medo só em pensar no tenebroso e proibido jejum, entretanto ruminando vagarosamente.
Só agora fui juntando cacos coloridos de cá e acolá, amalgamando a coleção de motivinhos que me impulsionavam a purificar literalmente a alma, o organismo e a memória. 
Tem me trazido brandura, me embalado em reflexões intrínsecas, me demonstrado um Eu Interior vigoroso que estava arqueologicamente soterrado na poeira dos tempos.
Em estado de jejum, pequenina, consigo me conectar intensamente com o infinito universo à volta, esbrangendo minha redoma opaca, a aguçar os sentidos voando um pouco além do horizonte. 
Quando "garrei" estudar para compor um protocolo sem inamovibilidade que melhor me coubesse, pude enfim matar um desejo de infância que se tornara longeva fascinação.

4 comentários:

  1. ~~~
    ~ Felizmente tinhas um pai esclarecido que deve ter vivenciado as grandes epidemias do bacilo de Koch que punha os sanatórios da
    Europa super lotados de tuberculosos...
    ~ O pai mourejando para encher o pratos das meninas...

    ~~ Como te disse. tens algo de masoquista e
    aprecias a ''tonteira'' originada pela fome...

    ~~~~ Abraço, Cristina Pavani ~~~~
    ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

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    1. Oi Majo! Tudo bem?

      Minha avó nunca soube de meu intento em imitá-la até mesmo neste detalhe... Era o ente familiar a quem eu tinha maior apego e com 12 anos deixei de tê-la.

      Meu pai era parecido contigo em determinados aspectos. Deve estar me recriminando à beça lá de cima...
      Você tem ascendência espanhola?

      Abreijos teimosos e queridos!

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  2. Olá querida
    O penúltimo parágrafo me calou profundamente... é assim mesmo!
    Bjm fraterno

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    1. Olá, Querida Rosélia!
      Eu estou me valendo deste canal (o jejum) para afirmar minha pequenez diante do Universo e do Poder Superior...

      Beijos também procê!

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