29.10.15

Como era na sua infância?

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Lá no cafundó, tínhamos comida, e não produtos alimentícios. Nada vinha em pacotinho. A variedade era pequena e dependia da estação, do regime de chuvas (que era sempre prá mais e "melava" a produção).
O leite da minha infância era tirado na hora, e a gente chamava cada vaca (que dava "poquin" leite) pelo nome próprio. O que sobrava ao fim do dia, virava coalhada ou ia pros porcos.
As bolachas, quando havia, eram de sal amoníaco; portanto, num doce quase salgadinho. O macarrão tinha a massa caseira de ovo caipira e o "molho" de coloral (urucum). O suco domingueiro, ou era limonada ou garapa prensada na hora. 
E a água mineral de toda hora? Vinha direto da mina, talvez com uns bichinhos, e daí? A gente filtrava na talha, porém quando estava no mato, debruçava de boca no regato e sorvia sem cisma.
Barrinha de cereais era o bolo de fubá, com tanto fubá (grosso, do monjolo), que raspava a garganta e só descia com um golinho de café preto (plantado na propriedade).
A farinha "branca" para o pão caseiro era  bem amarela, não tão refinada quanto hoje. E o pão de forno à lenha levava muita banha de porco (além do leite gordo  e ovo caipira).
Nossos "embutidos" eram o toucinho, linguiça e chouriço que ficavam defumando naturalmente sobre o fogão à lenha, sem nitratos e nitritos.
O o queijo? Era só o frescal - aquele de tábua... Sim, ele ficava curando lá na tábua da dispensa, sendo virado e polido a cada dia. Coisa boa!
E a latinha de ervilha? A vovó plantava, e as favas verdes eram colhidas no avental, só o punhadinho referente à sopa do dia.
Doces? Só de domingo! Mel e rapadura, pé de moleque caseiro, doce de leite com banana, goiabada cascão, bananada e doce de abóbora ou mamão, cidra ou de batata-doce-roxa. Não conhecíamos chocolate...
Sorvete com muita gordura hidrogenada e aditivos mil? Só umas vezes na vida, quando íamos à cidadezinha com tempo (e dinheiro) de sobra.
A horta e o pomar eram a extensão de cada quintal - carpido pelas galinhas. Frutas eram somente ao pé; ninguém na roça venderia fruta aos vizinhos, era pecado.
E na época correta do ano, imperavam as culturas de subsistência: Pipoca, amendoim, batata-doce, milho verde, abóbora madura, vagem, baroa, mandioca... Além do arroz com feijão e batatinha.
O peixe era pescado na hora - lambari, bagre e "barriga podre". Tão pouco, que a gente nunca enjoava. Carne de caça - pássaros. Criação - porco e galinha. Tudo aos pouquinhos, bem aos poucos (até ovo caipira).
Era melhor que hoje? Não se trata disso; só outros tempos, outro mundo, outra filosofia onde se abarcava a natureza  de uma forma quase teológica...
Imagem Google.

4 comentários:

  1. Que bom lembrar deste tempo de feliz idade Cris.Eu que venho lá do mato, bebendo agua de bica, sentindo o cheiro forte de querosene pela casa à noite. Eu que tinha a função de fazer limpeza do rego que trazia a agua até a porta da cozinha onde uma gamela grande recbia a agua e onde se lavava as vasilhas com bucha de e cinza. Eu vou dizer que era muito bom. Tenho as imagens vivas à minha frente inclusive as armadilhas como arapuca, mundéu para pegar paca ou tatu e até coelhos. Lembranças da hortinha lá na grota onde tinha couve, tomate, ora-pro-nóbis, mostarda. Como não lembrar do guisado feito pela avó com o umbigo do cacho de banana, o palmito da umbaúba, o grelo de bambu. Menino feliz correndo pelo capinzal ao primeiro canto da galinha. Saudosismo de um tempo bom, de cosias naturais e vida sem risco, pois os ignorava.
    Assim era minha infância de banho em córrego, de andar a pé até a vendinha onde se comprava o toucinho, o querosene e as vezes uns doces que vinha da cidade.
    Um bom lindo fim de semana com feriado para um descanso maior.
    Carinhoso abraço e beijo paz amiga.

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  2. Me lembro do querosene, Tonin... qualquer ventinho apagava a lamparina.
    Certa vez, meu irmãozinho ajudando a limpar o rego d'água, for mordido por um cascudo!
    Eu lavava até o cabelo com sabão de cinza.
    Meu pai vivia armando arapucas - comíamos pombado-ar. A mãe conta que de pequenina, comi carne de paca e "empipoquei" toda... O tatu foi o último que comi.
    Ora-pro-nóbis não tínhamos, mas a moita de lágrimas de Nossa Senhora rendia muitos enfeites.
    Tinhamos muitos pés de palmito, mas a mãe não gostava de fazer.
    Antes de eu nascer, meu avô era o dono da vendinha, mas ela acabou-se...

    Final de semana iluminado procê também, outro abração com sabor de infância roceira!

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  3. Ai que lindo, nasci na cidade mas tínhamos sítio e eu, a única de quatro amava viver ali.
    Hoje vivo na Suíça, saída de Recife, fui a uma montanha chamada Davos, o trem passa pelo bosque de pinheiros, coisa mar linda da vida, até parece o Candá, senti o cheiro dos troncos molhados e de cogumelo, nossa, como um num piscar de olhos me veio tudo ao mesmo tempo nas lembranças e senti uma saudade que raramente ou praticamente nunca sinto do Brasil.
    Mas daquele cheiro e do que havia envolvido naquele contexto senti imensas saudades!!!

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  4. Pôxa, Marie, que invejinha!
    A Liana (http://www.elaeamericana.net) também recomenta esta bela montanha.
    A Suíça, apesar de pequenina tem natureza exuberante, eu eu amo natureza!

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