Temos um cantinho a 15 km da Cidade, com a casa de campo da Avó. Fiz meu "Resort" numa edícula aos fundos, onde havia a antiga queijeira e quartinho de ferramentas. É menos que uma cabana, mas eu e o Esposo dormimos lá cerca de uma vez por mês, para recarregar as energias.
Acordando costumeiramente às cinco, temos noite muito fechada nesta época do ano; nem dá para nos levantarmos e fazer caminhada. As galinhas iniciam os saltos do limoeiro às seis e quinze, quando passa a se delinear o horizonte lá sobre a mata "do Tio Jhoany".
As estradinhas morro acima/abaixo, são uma invasão de cores, sons e formas: há pássaro de todo tamanho, cor, burburinho, arisquez. As pedras são entidades à parte, de minúsculas a enormes, com líquens, musgos ou peladas mesmo, nos transmitindo misticismo e ideia de permanência.
A vegetação, tão verde na virada do ano, e gulosa a tapar os olhares, pela exuberância e abundância de moitas, assume tons terrosos e pastéis, se escasseia e nos dá a oportunidade de enxergar lá longe, por frestinhas entre silhuetas magrelas em seus dourados.
Os animais silvestre nem sempre são vistos, todavia a um ano encontramos um macaco bugio quando passamos de jipe numa trilha remota: era todo negro e enorme! Fofo, parecia adolescente! Ficou lá à beira do barranco sem ação. Tinha saído da mata nativa para adentrar o "calipiá" (plantação de eucaliptos); assustou-se e retornou à mata. Estávamos em dois casais e no êxtase não tiramos fotos (contudo está fotografado no cérebro).
Numa descida do "Pico do Gavião" em meio à mata, para brincar de cruzar o córrego sem ponte, um veado atravessou nossa frente e sumiu pela pastagem. Estávamos numa caminhonete cheia, eu e outros na caçamba, foi emoção à flor da pele, contudo não podíamos gritar (respeito ao bicho).
Meus primos da roça vêem de vez em quando, pegadas e a própria suçuarana. Lobo guará é de praxe, vêm se alimentar dos restos de bananas que o comprador descarta. O lagarto teiú é comum, e permanece lagarteando ao sol até nos aproximarmos a uma distância segura, então dança o rabo e foge "voando".
No meu "condin" moram algumas lagartixas de cerca de 15 cm; quando chego de "viagem", se retiram medrosas. Há aranha pretas com pintinhas amarelas no traseiro, não são corriqueiras como as geométricas, e pelo amarelo que bandeireiam, devem ser venenosas! Fico longe. Suas teias são lindas cortinas!
E o luar? Seguindo o caminho do sol, logo à noitinha vem despontando no "morro do Armando", rasga um vãozinho na capoeira e desponta, acendendo as nuvens em volta. Os pontinhos de estrelas surgem tímidos, poucos em poucos a criar um tecido poá no céu negro. A ausência de lâmpadas impõe força e vigor a esses entes misteriosos, que desenham o caminho de santiago sem pressa.