26.10.13

Pés de lótus

A mais de uma década, assisti a um documentário impressionante, pela "Nat Geo", que ultimamente pude rever, há em locadoras.
Trata-se de mulheres, e alguns homens chineses (diz-se que aqueles criados por travestis), que tiveram seus pés mutilados na infância.
O procedimento consistia em enfaixar permanentemente os pés das crianças com bandagens apertadíssimas, iniciando entre três e oito anos de idade. Quanto menor a idade da criança, mais "perfeita" a técnica.
A dor era terrível, e ficava-se sobre a cama quase o tempo todo, "privilégio" da classe média e alta, porém os pobres foram gradativamente aderindo à "vantagem", ao menos com a filha caçula. 
Quando usamos um calçado um pouco apertado, sentimos o incômodo e dor, que dirá permanecer assim dia e noite!
O mal cheiro recendia, sendo necessário higienizar diariamente os pés e trocar as faixas, sob risco de sérias infecções.
Imagino o alívio do desenfaixamento, e ao mesmo tempo, a dor ao toque... as unhas de dedos retorcidos sob a sola dos pés, cresciam e cravavam a carne, enquanto os pés tentavam o mesmo.
Gangrenas por má circulação sanguínea eram comuns, e alguns dedos acabavam sendo perdidos, facilitando o trabalho do cuidador. 
Após os treze anos, e para o resto da vida, as ataduras eram feitas pela própria "pés de boneca", pois a manutenção garantia o sucesso.
Sapatos especiais faziam parte do "tratamento de beleza", e eram artisticamente criados por artesãos e pelas próprias "´pés de lótus", como forma de lazer.
Muitas crianças ficavam tão debilitadas pela dor, impossibilidade de sono e dificuldade na alimentação, que qualquer probleminha de saúde as matava.
A "lótus dourada" era o comprimento de 7,5 cm para os pés, ideal quase inalcançável. Ultrapassando 10 cm, o trabalho era considerado malfeito.
Na juventude, era considerada a mais alta sensualidade, os pés de lótus suscitavam mais fetiche que a vulva, e um homem abastado apenas se casava com uma "pés de lótus", compensando o sacrifício familiar. 
O marido envolvia seu pênis no vão dos dois pés aveludados (por não pisarem), como forma máxima de excitação sexual. Eram pétalas de lótus, e se a esposa os usasse para acariciar o esposo, então...
Na vida adulta, a pessoa era praticamente deficiente física, estando impossibilitada à maioria dos trabalhos e tornando-se um peso para a família. Cuidava da casa com apoio de diversos banquinhos.
Ainda hoje há velhinhas remanescentes desta barbárie abandonada (será?), que quando conseguem se locomover, necessitam de bengalas, tamanha a desproporcionalidade dos pés em relação ao corpo.
Há várias hipóteses para a comparação com a bela flor de lótus: o tamanho mínimo resultando em passos suaves, a curvatura do pé, que fica arqueado para baixo, imitando um salto alto, dentre outras.
A tradição durou cerca de 1.000 anos, e uma das justificativas era de que assim a pessoa "não criaria asas": não fugiria de casa ou não se aventuraria.
A prática se disseminou para outras partes da ásia, contudo em menor grau. Hoje é considerada arcaica, pois causa quedas e problemas ósseos na coluna e quadris, devido ao deslocamento irregular. 
A última indústria de calçados para pés apequenados fechou em 1998, por falta de clientes.
Eis um poema, trazido ao ocidente por Howard Levy:

"Todas as noites, eu respiro seus pés, esse odor é teu e ninguém o possui... Eu só lamento não poder colocar na minha boca teu pé inteiro... como se fosse uma branca castanha... Mas eu posso lambê-lo todo... ah, isso eu posso."

Não postarei fotos, procure-as sob o título do post, são imagens incompreensíveis à nossa cultura, contudo anexadas à vaidade imposta por um padrão (destorcido) de beleza. E a origem da prática estava no maior prazer sexual masculino. Sempre!
Além do documentário, realizei inúmeras leituras para aos poucos, compor um esboço deste post, inviabilizando uma lista bibliográfica.

Vale ressaltar, que em minha infância na roça, ser rechonchuda e ter pernas grossas fazia parte da ditadura da beleza, que só escravizava as filhas de fazendeiros, pois não precisavam trabalhar duro nas plantações.
Os pés acima da numeração 37 eram discriminados, pois as raquíticas moças caboclas não passam muito de um metro e meio de altura.
Ser magérrima, mutilada pela anorexia, como as modelos esquálidas de hoje, era sinal de pobreza e desnutrição no início da década de 70. 
Atualmente, o uso de  perigosos saltos altíssimos não nos faz refletir? E as desconfortáveis calcinhas "fio-dental", em corpos até de meninas pequenas...imposições do "parecer" se sobrepondo à simplicidade do "ser".

Pães de cenoura

Dois kg de farinha de boa qualidade;
Uma colher (sopa) rasa de sal, e seis colheres de açúcar;
Setenta gramas de fermento de padaria ou similar (biológico). Se estiver muito calor, 50 gramas de fermento é suficiente;
Cerca de quatro cenouras médias (meio quilo) batidas no liquidificador com água; 
Três ovos e um copo americano pequeno de óleo;
Dois copos de leite; água para amassar.

É tudo de cabeça, viu? Mas deixe mais farinha de reserva: pão é alimento ancestral, não requer receita escrita...
Numa bacia grande, acrescente o leite, misture todos os ingredientes, juntando água aos poucos, até o ponto de massa de pão. Sove por 10 minutos.
Tampe com uma toalha dobrada (se tiver frio, jogue um cobertor sobre) e deixe crescer até dobrar de tamanho (uma ou duas horas, varia com a temperatura do dia).
Enrole de diversas formas e tamanhos, recheie uma parte e deixe dobrar novamente de tamanho.
Asse em forno forte, já quente, até dourar.
Cubra tudo com a toalha de mesa e cobertor sobre, para a casca ficar macia. Hummmm!!!!
Congele parte da safra após esfriar e também presenteie, surpreenda seus convíveres!

A massa fica amarelinha, devido às cenouras (e saudável)! 

Se rechear com carne moída, use músculo moído na hora (mais barato e sem gordura), tempere e deixe cru, vai assar simultaneamente ao pão.






A massa crescendo.

Enrola, e novamente a crescer.
O "Fiotão" trabalha numa fábrica de pequenos aviões, no aeroporto (na roça); faço lanche com pão caseiro porque aquele de padaria murcha rápido e não sustenta um moço faminto. Esta forma com 10, dará para duas semanas de lanche matinal, após congelamento.

22.10.13

Mantiqueira


Há maior belezura que esta eminência? Nenhuma cidade poluindo até onde a vista alcança! 
O nosso Planeta Terra é de fazer inveja a qualquer alienígena que acesse a rede mundial de computadores! 
Vivo apenas na rabiolinha à borda oeste desta magnânima Serra, porquanto em meu município, há vários estabelecimentos e loteamentos que possuem este belo nome, tamanha pretensão pertencimento à "mãe serra".
A afetação  é tão robusta que eu diria: o "crânio" da Mantiqueira é aqui... uma febre de 39,75º com interveniência na própria geografia.
A altaneira Mantiqueira abriga quatro dos dez maiores picos brasileiros. Ela contorna três estados: SP; MG; RJ, delineando a fronteira, e atinge 2.798 em sua cumeeira maior.
Possui cachoeiras e regatos em qualquer rasgão, hidrata quase 70% da população economicamente ativa do País (cerca de 15 milhões de pessoas).
A "serra que chora" ou "casa das chuvas", que verte águas cristalinas em vários pontos, é também mineral: Caxambu, São Lourenço, Cambuquira, Serra negra, Poços de Caldas, Águas da Prata, Caldas, Lindoia...
Este poderoso sobrenome Mantiqueira, é subdivido em diversos prenomes. 
No famoso "Pico do Gavião" (veja imagens), a oito km do sítio da Avó,  o prenome é "Serra do Caracol", na borda sul do complexo alcalino de Poços de Caldas (vulcão).
O Pico do Gavião (abaixo) é considerado um dos melhores locais do Brasil e até do mundo para se praticar parapente, voo livre ou paraglider. Com um bom binóculo, se avista mais de 30 cidades, num ângulo completo (360 graus)!

As unidades de conservação nela existente são uma "caderneta de poupança" com espécies muitas vezes endêmicas, tanto em  flora quanto fauna. 
A avifauna é deveras variada: gralha-azul, tucano, maitaca, inhambu, jaçanã, seriema, gavião carcará, corujas, dentre tantos.
Veado campeiro, lobo-guará, onça parda (suçuarana, puma, leão baio, pantera ou jaguar), cachorro-vinagre, jaguatirica, paca, macaco sauá,  bugio, quati,  esquilo, ouriço caixeiro, lagarto teiú são exemplos da fauna. 
Minas é a maior donatária, com cerca de 60% da cadeia montanhosa que beira 500 km de extensão! Uma cultura tradicional cabocla ainda está preservada por essas bocainas e boqueirões, com culinária de causar salivação.
Nas áreas de pico elevado, a temperatura por vezes se aproxima de 0º no inverno, com possibilidade de geadas, dando aquele charme à região, que possui campos de altitude e rincões de mata atlântica semi preservada.
As araucárias (coníferas) dão um espetáculo visual, assim como a embauba prateada, as quaresmeiras, ficheiras e minhas czarinas paineiras, pitangueiras, jatobazeiros, jacarandá, cedro, canjerana, guatambu, ipês, canela, angico, jequitibá, dentre tantas outras (eu amo a lobeira: veja  ).
Trilhas centenárias são mantidas vivas nos espigões de serra por aventureiros: motoqueiros, jipeiros,  gaioleiros, ciclistas, cavaleiros e peregrinos a pé. Bonito de se ver! 
A raça canina Pastor-da-Mantiqueira, também denominada "Policial" pela aptidão ao pastoreio, foi sendo apurada na lida diária de peões e tropeiros, tornando-se endêmica da Serra, todavia está em risco de extinção pelo excesso de miscigenação com outras raças.

Em quinze de novembro, estaremos seguindo com três veículos 4x4 sobre ela, rumo à Aparecida do Norte, pelo famoso "Caminho da Fé", criado pelo senhor Grings.

Fontes de apoio: Wikipédia /  Fundação Mantiqueira  /  aqui
Fonte das imagens:aqui   e    aqui 

20.10.13

"Fiotão"



Hoje ele aniversariou, almoçamos num restaurante rural, como é tradição nos domingos especiais e ensolarados daqui do interior.
Esses restaurantes oferecem vista deslumbrante, pratos inúmeros, no estilo sirva-se. Paga-se "por cabeça" com café e sobremesa inclusos (bebida à parte).

Acompanharam-nos, a namorada e seus pais. Ela fez até bolinho surpresa e cantamos "parabéns"; todavia, ao chegarmos procurando pela reserva, o atendente perguntou sobre o bolo (estragou a surpresa)!

 O aniversariante não paga seu prato, é cortesia da casa. Estamos na serra que emoldura a cidade, o vento deixa o ar fresco e com cheiro de mato.
Aos fundos, uma cachoeirinha de regato lança um ruído reconfortante.















18.10.13

Fortuna; Fortaleza; Favorita; Fumaça

Ponte da Ferrovia vista da rodovia Águas da Prata - Poços de CaldasAo casar-se, minha mãe recebeu do pai dela, uma vaca de presente: Fortuna. Sua primeira filha foi Fortaleza, depois veio a Favorita.
Lembro-me de meu pai trazendo um touro emprestado quando elas entravam no cio; ele ficava por lá uns dias, e era devolvido.
Fumaça, se não me engano, já foi filha de Fortaleza. Por fim, veio um boizinho que não recordo o nome, último da Fortuna.
Na seca, esse gado era levado para os campos,  zona rural de Poços de Caldas - onde há o complexo alcalino: a tal "caldeira" dos vulcões, sabe?  Um fazendeiro vizinho nos emprestava a pastagem!
Subia-se esta montanha a cavalo, e por detrás havia um belíssimo campo de altitude, todo plano e com vegetação diferente. Hoje está tomado por eucaliptos.
Numa tarde, voltando um pouco antes da roça, meu pai foi levar-lhes sal e ver como estavam. Na jornada a cavalo, cruzando esta montanha da ferrovia através de trilha, foi surpreendido por tempestade.
Esta região montanhosa tem severas tempestades elétricas, nas tardinhas de fevereiro e março. Num instante, uma tarde ensolarada pode ganhar nuvens negras. 
Chegando ao campo, ele encontrou Fortuna morta por um raio... como todo mundo, as vacas se escondem da chuva. Quando ficam sob árvores, a chance de raio aumenta.
Como havia se escondido da tempestade entre umas pedras imensas, atrasou-se muito e anoiteceu pelo mato.
Minha mãe, temendo que ele próprio pudesse ter sofrido com aquele dilúvio, se arrastou a pé, na noite escura, comigo e meu irmão, de 9 e 7 anos, para pedir ajuda na fazenda do "Tio Antenor".
Enquanto convenciam-na a aguardar, pois não havia mesmo outra solução, meu pai retornou, por volta de de 21 h, trazendo a triste notícia!
Após este episódio, desanimaram  e venderam o restinho do gado, e mais tarde investiram num terreno na cidade.
Me lembro que Fortaleza estava sempre adoentada e foi a primeira a ser vendida. O boizinho foi vendido para o churrasco de aniversário do "Tio Antenor" - 90 anos! Foi a 1ª vez que ouvi fazer em churrasco.
Apenas meu pai compareceu, e à noite trouxe um espetinho para nós. Minha mãe foi obrigada por ele, a colocar na panela e cozinhar muito, senão ficaríamos doentes...
Recordo os poucos queijos que minha mãe fazia quando havia leite. Eram vaquinhas caipiras, não procriavam sempre!
Em época de escassez, comprávamos leite na fazenda do "Tio Antenor", minha mãe fazia doce de leite com banana, famoso dentre nossas professoras!
fonte da imagem:espie    

17.10.13

Comparando

A obra de contenção de enchentes aqui da esquina, após quase três anos de construção, funcionou!
Nesta tarde, houve o primeiro aguaceiro da primavera, alagou os pontos costumeiros lá no centro da cidade, mas imagine se tudo isto fosse acrescentado...
O pessoal da prefeitura vira, mexe, anda para lá e para cá com capas de chuva. Aprovaram, afinal.
A rampa de limpeza está quase submersa; mas ainda há espaço para muita água potencialmente potável (se tratada).
A extensão da represa é de sete quarteirões, fazendo uma volta. O fundo é todo concretado... daria para construir um pequeno arranha-céu.
Há pista de caminhada em toda a extensão, mas ainda falta asfaltá-la. Uma parte do gramado acabou de ceder; coisas da natureza.
Veja o barro da pista, mas o povão já tem usado. Um alambrado novo será afixada em breve, evitando acidentes (o velho estava aí até ontem).
Há bancos por toda a orla arborizada. Esta rua agora é mão única, sentido centro - bairro, gostosa para bicicletar. Quando as árvores crescerem, ficará lindo! Sinta a chuva caindo...
Neste instante, as pessoas começam a comparecer para apreciar a novidade, e como a chuva ainda cai, continua enchendo.
E o arco-íris a leste (à esquerda), para coroar a inauguração.
Dia 18, 6 h 30: a água foi baixando durante a noite e escoou totalmente. Resta agora, apenas o Córrego do Bananal passando pelo canal. Restou a sujeirinha típica de um aguaceiro.



Piscinão

Post de 12/08/2012; atualizei para comparar.
Há mais de ano, esta cratera (cor negra) encontra-se aberta em minha esquina. É para conter enchente no centro. O impressionante é que quando o Esposo era criança, nadava aí (até pegou hepatite). Eram três lagos: um abaixo, outro aí e um terceiro mais acima. Um dia alguém furtou-lhes as roupas e tiveram que voltar correndo, e pelados para casa, aquela cambada de moleques.



 

Tudo foi aterrado... e agora este trabalhão para reverter! O homem é mais "tapado" que a natureza. 
Lá adiante vê-se a extensão do futuro piscinão rumo ao centro. Os caminhões (caçamba) se movimentam por dentro do buraco. Nem dá para ver a água. 



De tanto esburacar, a rua  ruiu. Aí passa o Córrego do Bananal. Uma mega canalização e um dos caminhões, abaixo de onde a rua cedeu. Mesmo sendo domingo à tarde, e dias dos pais, há muitos homens trabalhando lá.


Repare na intensidão de azul! É  sempre assim nosso céu de agosto... e também é assim esta secura na terra! Nem sequer um algodãozinho de nuvem, nada. Temos uma brisa leve, temperatura amena, dias aumentando um pouquinho de tamanho. Adoro agosto, mês de muito gosto! Só não tem feriados, e é tão compriiiiiido...
 
 Esta   maravilha  da  engenharia  é uma   sul coreana Hyundai. Não me canso de admirá-la escondidinha, no domingo está deserto, sem transeuntes nem admiradores. Ela vira-se mais de 300 graus para morder a terra com sua imensa "mãodíbula". Enche um caminhão em minutos, daqui ouço o barulho dos solavancos e das batidas no chão. Deve ser diferente pilotá-la!
Há uma americana Caterpillar, de outro modelo e para outra função, na obra de duplicação da pista, uns quatro quarteirões descendo à direita. Coisa fantástica!   




De frente à minha firma, a vista lá embaixo na esquina, com o campo de futebol por detrás, quase sendo engolido pelas  obras. Na maquete, ficará lindo ao final: toda aquela aguada com uma pista de caminhada em volta... (daqui a anos  posto o resultado).

13.10.13

Transcendência

Na sexta à noite fui para a serra; dormimos no sítio só eu e o Par. No meio da manhã de sábado, começou a chegar a parentalha.
Neste semestre, os feriados resolveram cair todos no sábado, o que não é ruim, pois a oficina abriria até meio dia. 
A primeira noite, foi de uma ventania infinda, a tal cruviana estava insolente. Tivemos um sábado nublado e fresco, mas sem chuva.
Ao cair da noite, a energia elétrica se foi, coisa atípica sem tempestades. Usamos velas e lanternas. Banho? Quem tomou, tomou, os outros... de manhã, os primos tiraram leite das vacas no muque.
A questão é que numa noite rural, a escuridão faz a imaginação fluir, ainda mais com certas histórias.
A três meses, perdemos uma prima da roça por acidente de trabalho. Ela entrou num funil que lavava café, para desentupir, seu pé ficou enroscado e dali vinte minutos estava morta por asfixia.
A asfixia por grãos é perigosa: enquanto a pessoa respira, eles vão ocupando o local do diafragma. Ela só estava soterrada do tórax para baixo, e mesmo assim se foi.
Estando a vinte quilômetros da cidade, o resgate fez o que pode para chegar a tempo, assim como o pessoal da fazenda. 
É hábito rural, a parentalha passar a noite no velório, e ela foi enterrada na manhã de sábado. Comoção geral na serra.
À noite, um grupo de jovens foi churrascar num sítio próximo, como de costume, todavia um casal resolveu voltar para dormir na cidade, o espaço na casa era pouco. 
Os dois se perderam com o carro nas imediações do local do acidente, porém nada sabiam do ocorrido. Resolveram voltar para o sítio e pedir orientações mais precisas do caminho.
A garota, filha de um médiun, começou a passar mal. Foi piorando, e quando chegaram ao sítio dos amigos, ela jogou-se no chão, toda possuída por contorções e ruídos.
A cena foi tão terrível, que os jovens usaram dois carros, deixando por lá os outros dois, voltaram à cidade segurando à força aquela moça.
O pai, ao fazer seus trabalhos, relatou exatamente sobre o acidente no dia anterior. O namorado, nosso conhecido, ficou em pânico.
Agora, cada pessoa analisa o acontecido sob um prisma: teria sido o espírito perdido da prima que agarrou a garota sensitiva, por desespero? 
Será ela uma paranormal que captou todo aquele sofrimento na serra e externou a energia dessa forma?
Como seu pai "leu" o acidente sem prévio conhecimento, enquanto fazia um passe na filha? 
E os mistérios entre o céu e a terra continuam... sei que a noite escura me deixou cismada; nada de andar pelo terreiro curtindo a madrugada!
Foto: Serra do Mamonal aos fundos da plantação de lichias.

9.10.13

Cuidado com o voto!


A alguns anos, quando estava estudando Ives de La Taille, fiquei assustada que a sua definição de voto. Não encontrei aquele texto na net, mas veja algo parecido: 

YVES DE LA TAILLE. Foto: Almir Cândido de Almeida

"Deve-se evitar ao máximo que os combinados se deem por votação. É preferível procurar o consenso, o que dá muito mais trabalho, mas é bem mais rico, porque desenvolve a prática de escutar o outro. 

Se o grupo segue muito rápido para a votação, elimina-se uma etapa preciosa que poderia ser dedicada ao diálogo. 
A votação não é diálogo, a votação é poder: se eu tenho mais votos que você, você perde e eu ganho". 

Por que eu nunca havia pensado nisso? Será que alguém pensa, na hora de votar?
E com os alunos, em sala de aula, o pensamento deve ser mais aprofundado... evitar votações é o melhor.
Sendo o voto, um imenso instrumento de poder, cuidado com ele! La Taille diz que a tirania de um grupo  organizado pode ser muito maior que a de um tirano sozinho.
Eu leciono "ensino religioso" numa escola, que por lei é laica, justamente porque uma bancada religiosa no Congresso Nacional assim determinou... Sempre faço cursos com os teóricos da UNICAMP, que consideram esta questão absurda.
Então, qualquer tema controverso, sendo referendado pelo voto, adquire legitimidade. Eu vejo entre as crianças, como elas podem ser cruéis para punir o outro.
A reversibilidade de pensamento, que é um conceito matemático onde nos colocamos no lugar do outro, compreendemos seu ponto de vista, nem sempre é exercitada. 
Apoio totalmente esta tese de La Taille, pois sofri na pele este veemente instrumento de poder, numa  época em que desconhecia a tese.
Em 2005, após ser aprovada em um rigoroso concurso interno com outras professoras, numa etapa seguinte, fui eleita por votação, para ser coordenadora de uma creche, pertinho de casa. 
O que eu não imaginava, era que na cabeça das funcionárias votantes, eu estaria "nas mãos" delas. Minha capacidade profissional e a nota da prova escrita nada contavam.
Elas não estariam elegendo uma chefe, alguém que as guiasse, e sim alguém para "rezar segundo sua cartilha", sem hierarquia.
Usaram muito bem o voto como instrumento de poder, querendo que seus interesses de funcionárias se sobrepusessem àqueles das criancinhas com quem trabalhavam.
Muitas vezes elas frisavam que eu apenas estava lá devido à votação, que eu devia a elas o cargo (que nem era tão bom assim).
Permaneci dois anos e três meses na creche, fiz diversas melhorias que estão lá até hoje, todavia meu foco era as crianças e não as funcionárias.
Programadamente, voltei para a paz do meu cargo de professora, pois eu estava apenas afastada dele, e com um acréscimo salarial incompatível com o acréscimo de obrigações e carga horária.
Diversas coordenadoras neste município abandonaram os cargos, por questões de poder semelhantes; em certos casos, vindas de superiores.
A moça que me antecedeu, durou seis meses no cargo, e retornou ao antigo posto. Minha sucessora, ficou três meses: com ela a questão beirou ao bulliyng, então ouve uma denúncia ao gabinete do prefeito e instalou-se uma sindicância.
Passei a pensar melhor sobre todas as nuances que envolvem a vida dos políticos, os financiadores dos partidos, as disputas internas, o gabinete do prefeito  e equipe de vereadores em cidades pequenas...
Os lobbyes de grupos organizados exercem pressão política a seu favor; o problema é quando ferem a maioria, que fica de fora, gerando um despotismo poder do pelo voto.

Fonte de apoio: esta     

Cambuquira

Alguns brotos de abóbora.
1 ovo. 1 pitada de sal.
1 pedaço de cebola picadinha.
1 xícara (café) de óleo.
Recolha de uma abobreira, três ou quatro brotos com talos, folhinhas e flor (caso haja).
Não exagere na quantidade.
Lave, pique e reserve. 
Refogue a cebola até leve dourado e coloque o sal.
Jogue a cambuquira, mexa  um pouco e acrescente gotas d'água para cozer.
Tampe a aguarde a água enxugar.

Quando parecer pronto, acrescente o ovo, mexa rapinho e desligue.
Continue mexendo mais um pouco e pronto!

Fica deliciosa quando embrulhada em omeletes (tipo panqueca).

Esta eu plantei num vaso (no quintal). É a terceira e última colheita, nunca floresceu, e se o fizesse, não frutificaria por falta de insetos polinizadores; todavia, o intuito foi atingido: fazer cambuquira!
É parecido ao bróculis, contudo mais suave. Pode ser usado da mesma maneira que ele: em sopas, macarrão...
Nos 20 km até o Mamonal, encontro abobreiras à beira da estradinha. As melhores ficam à sombra e no verão estarão mais carnudas e suculentas, tirar um pouquinho não prejudica o pé!

A cidade de Cambuquira - MG é igualmente deliciosa... quando saímos por Minas Gerais, dormimos uma noite em cada cidadezinha... Foi assim que cheguei a esta estância hidromineral homônimo. Recomendo!

8.10.13

Universidade à distância

Terminei em maio de 2012, uma Especialização pela Universidade Federal de São João Del Rei - MG: "Educação Empreendedora".
Este curso visa preparar a criança desde cedo, para os desafios do mercado de trabalho, desenvolvendo potencialidades e detectando talentos.
Tivemos quatro encontros presenciais no Polo Universidade Aberta do Brasil. Começamos pela aula inaugural, para orientações gerais e para nos cadastrarmos à Plataforma Moodle  (foto).
A primeira parte das avaliações ocorreu após o término de metade das disciplinas, sempre nas manhãs de sábado, uma seguida à outra e com consulta.
A segunda e última parte das avaliações e orientações sobre a temida monografia, ocorreu quando terminamos todas as disciplinas.
O último encontro, e mais tenebroso, já foi com a apresentação da monografia pronta, onde explanei sobre o "Virador": aquele micro empreendedor que é um "faz tudo" na sua empresa (inspirada no Par).
Foi um ano e oito meses de aprendizado, dificuldades, insegurança, conquistas, desespero, e por fim a vitória! O certificado...
Parece que estou me "gabando", contudo tenho 49 anos! Vivi na roça até os treze e o aceso à tecnologia me veio bem tarde. Professora alfabetizadora não lida com equipamentos de ponta no seu cotidiano.
Tive que diminuir ainda mais meu tempo livre, me excluindo de passeios em fins de semana,  para dar conta de tantas leituras técnicas, trabalhos para enviar, pesquisa de campo.
Foi tudo muito novo, não tive tanto problema com a administração do tempo para os estudos, todavia dominar a Plataforma gerou insegurança. Ser aluna de uma máquina é estranho...
Muitas vezes não ter com quem tirar dúvidas, não ter seu professor ou tutor cara-a-cara, é assustador, porém nada se compara à dificuldade para fazer a monografia em si, que ficou por último.
Por causa de alguns alunos retardatários, os prazos foram se estendendo angustiantemente, pois a equipe não podia sair de São João Del Rei, lá em Minas Gerais, para atender apenas parte do grupo...
Eu já havia feito Especialização: "Psicopedagogia", pela Universidade Católica, também em Minas Gerais, contudo foi semi presencial (de 1998 a 2000), e igualmente desafiante.
A psicopedagogia nos ajuda a detectar síndromes, transtornos, distúrbios e a lidar com deficiências físicas, sensoriais e principalmente intelectuais (as mais comuns).
Tento não me sentir velha, não desanimar, vencer os desafios da informática e fazer os cursos bem feitos, pois acima de estar obtendo qualquer aprendizado, preciso dar o exemplo a meu filho, sei que ficou orgulhoso em saber que tive louvor nas duas Monos, após fazer e refazer inúmeras vezes.
Os Polo de Educação à Distância são vanguardistas, nos levam a ultrapassar limites inimagináveis e nos trazem para perto, Universidades Federais de qualquer região do Brasil. Muitos cursos de graduação estão disponíveis, a um clic de nós.
O mais importante em um curso assim, é a dedicação, responsabilidade, e sobretudo autonomia, pois ninguém diz presencialmente o que fazer, quando enviar os trabalhos, nem dá explicações físicas.
O elo com a universidade é a plataforma e o tutor à distância, pois os tutores presenciais geralmente só tiram dúvidas na área de informática, no uso da ferramenta (plataforma). E o tutor à distância não é tão disponível.
Hoje faço um curso de dois anos: Pacto Nacional pela Alfabetização - do MEC, mas é presencial, e com minha própria chefe (o que tem o lado bom e o ruim).


As três à esquerda, sentadas ao computador: Ana, eu (escondida atrás da Ana) e Patú (estas duas colegas de trabalho foram praticamente a única fonte presencial para troca de dúvidas e soluções). 

Fonte da imagem: uabsjbv.blogsport.com.br .

6.10.13

Arapuca



Esta eficiente armadinha, ou ferramenta de caça muito usada aqui na região, remonta à era indígena. 
Era estimada por meu pai, eu o vi fazer várias: ele cortava pauzinhos e ia amarrando-os com cipó ou imbira de bananeira, até o topo piramidal.
Para armar, ia até o local de avistamento e delicadamente equilibrava a pirâmide sobre uma estaca. 
Colocava milho embaixo e quando a ave, ou outro animal, tocava a estaca, toda a estrutura caía sobre ela, mantendo-a encarcerada, todavia saudável.
O pai gostava do nambu, saracura e pomba do ar, por serem um pouco maiores. A seriema parecia extinta, todavia agora, livre da caça, retornou em abundância. 
Ele era um homem com um pouco da síndrome de Peter Pan, sem dúvida, trabalhava menos que os outros, para ficar caçando e pescando feito índio.
A carne dessas aves, principalmente do peito, era bem escura, vermelha, pois o voo forçava estes músculos. Muito diferente deste "peito isopor" que há hoje no mercado. 
A "mistura" lá em casa, muitas vezes era carne de ave caçada assim, ou abatida com espingarda, o que danificava boa parte do animal, que já era bem pequeno. 
A ave era limpa e cortada em cruz, pois éramos quatro: cada um comia um pedacinho, bem pequeno por sinal, contudo saborosíssimo.
Era nossa fonte de proteínas: uma carne usada como temperinho; o que enchia a pança mesmo, era a dupla arroz com feijão.
Minha mãe aproveitava os órgãos internos também. A moela era mínima, e até difícil de limpar. Coração e fígado eram motivo de disputa entre eu e meu irmão. 
Criávamos galinhas, porém tanto elas quanto os ovos eram vendidos na cidade, mais uma fonte de renda alternativa ao café, que só virava dinheiro uma vez ao ano.

Fonte da imagem:     

2.10.13

Estamos encolhendo...

Algumas pessoas ainda relutam em acreditar que a taxa de fecundidade das brasileiras  está em apenas 1,9 filhos por mulher, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) .
Tudo que nós, na faixa dos 45 / 50 anos, aprendemos no ensino médio sobre um país de jovens, o crescimento populacional exagerado, já caiu por terra.
Sim, o Brasil não mais repõe sua população. Para tal, é necessário 2,1 filhos: dois para repor os pais e a fração para compensar aqueles que morrerão antes da idade procriativa.
Eu tive dois irmãos e oitenta primos: sessenta paternos e vinte maternos. Meu filho (único) tem dezesseis primos paternos e um materno.
Importante frisar que meu esposo é o último filho de sete irmãos (temporão), e o único que teve apenas um descendente. Eu sou a primeira de três irmãos, o inverso dele (meus pais eram cerca de vinte anos mais novos que os dele). 
Pela discrepância no número de primos paternos e materno de meu filho, notamos a mudança de mentalidade do brasileiro quanto à procriação, em apenas duas décadas.
Na zona rural, onde fui criada, era necessário muitos filhos para contribuir com a força de trabalho familiar. Ali também quase não havia gastos com a criação dos bebês, numa agricultura de subsistência.
Pequenos proprietários de terras ou trabalhadores meeiros em fazendas, usavam os filhos desde bem pequenos para compor o orçamento.
Um meeiro trabalhava por empreita, ficando com metade da produção e deixando a outra metade com o fazendeiro, necessitando de toda a prole para agilizar os trabalhos braçais.
Conhece o ditado?: "Criança ajuda pouco, mas quem recusa é louco".
Sem contar que o tabu rural (aliado à igreja) quanto aos métodos contraceptivos se materializava até mesmo em músicas populares.
Quem não se lembra de "Pare de tomar a pílula" (Uma vida só), de Odair José? Foi um grande sucesso no rádio, por toda a década de setenta.
Eu mesma, aos treze anos, já contribuía com uma grande parcela do orçamento familiar, entregando nas mãos do pai, toda a féria mensal.
As exigências atuais quanto aos cuidados infantis fizeram com que os casais repensassem seus valores, trocando a quantidade pela qualidade.
A ida da mulher casada para o mercado de trabalho e o aumento nos anos de escolarização da criança, também estão influenciando muito nos números atuais.
Ainda temos deficiência grave em educação sexual para adolescentes. No posto de saúde aqui da esquina, a maioria de gestantes é muito jovem.
"Mulher casada não tem mais filho", me disse uma das funcionárias, quando comentei que minha ex aluna, tão novinha, já está ali, numa gravidez não planejada.
Neste ano, tenho apenas um aluno numa família de cinco irmãos. É uma turma predominantemente de baixa renda, ficando em 2,5 filhos por família, todavia alguns são apenas "meio irmãos".

A região brasileira com maior taxa de fecundidade é a Norte, com 2,51 filhos por mulher. O Sudeste detém a menor média, com 1,75. As Regiões Nordeste, Centro-Oeste e Sul, apresentam taxa de fecundidade de 2,04, 1,93 e 1,92, respectivamente (fonte - IBGE). 

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