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Já comentei aqui, que para um professor, um dos casos de inclusão educacional mais complicados é o T.D.O.: são aquelas crianças consideradas más (de má índole) no senso comum.
Elas são famosas em qualquer escola onde estejam, e eram constantemente expulsas quando a lei permitia. Até pouco tempo nem eram consideradas casos de inclusão e não se sabia que o problema está em seus cérebros.
Tais crianças atormentam sobremaneira os colegas, professores, batem no diretor, agridem animaizinhos, gostam de acidentes trágicos, filmes violentos, incitam maus comportamentos nos colegas mais levados.
O maior problema em lidar com elas, é que elas conseguem arrancar da gente aquilo que há de pior escondido no nosso subconsciente animal (o id freudiano). Dá vontade de avançar sobre uma criança assim, na hora da raiva. Sorte termos superego, senão estaríamos na cadeia!
Neste ano estou no sétimo céu, pois não os tenho, todavia na sala ao lado há um caso gravíssimo, que respinga em meus alunos. Um belo garotão de seis anos, que não para na sala; tem uma babá estagiária o tempo todo; atira pedrinhas na janela de minha sala; abre minha porta de supetão e grita com meus alunos; bate na carinha deles no recreio.
Nesta semana, uma servente da Escola veio me perguntar porque a minha bela garotinha com nanismo estava usando o sanitário comum, visto que ela tem sua privadinha pequetita, devido às perninhas curtas.
Ao questionar, soube que a colega foi ao banheiro e o tal menino estava lá, no sanitário feminino, sentado sobre a sanita pequenina, fazendo o número 2. Deixou o vaso imundo e saiu gargalhando.
Minha aluninha soube pela amiga e não voltou lá, passando a usar o sanitário da frente, sob risco de cair devido à altura. São diversos destes comportamentos cotidianos (e não esporádicos) que caracterizam o T.D.O.
Se a criança não for devidamente tratada e medicada e o transtorno aumentar, na adolescência o nome muda para "Transtorno de Conduta" (adolescente infrator), e aos 18 anos novamente o nome muda para "Personalidade antissocial" (bandido mesmo).
Não há garantias que medicando, tudo melhore. O tratamento é longo, tortuoso e nem sempre eficaz, envolvendo condutas familiares, tratamento psicológico e pedopsiquiatra especializado.
Onde eu quero chegar? Ao fato de que aos seis aninhos, professores e outros profissionais já podem identificar futuros bandidos? Ao fato de que todo caso gravíssimo é um potencial criminoso?
Não é bem assim, e nem podemos estigmatizar uma criança tão novinha, todavia temos sim muita responsabilidade se um dia, essa criança que passou por nós, assassinar alguém friamente. Munidos de informações, temos que buscar ajuda técnica e orientar a família (sem traumatizá-la).
Cerca de 70% ou mais dos garotos infratores da "Fundação Casa" são portadores de T.D.O. evoluído. Se tivessem recebido tratamento de ponta aos seis anos, teríamos uma sociedade muito menos violenta. Não quero dizer que todo T.D.O. grave será adolescente infrator.
E este tal tratamento de ponta? Bem, ainda estamos longe de obtê-lo. Envolve, como já dito, atendimento multiprofissional, fármacos, mudança de postura familiar. Mesmo assim, nem sempre os resultados são favoráveis.
Não é pavoroso olhar para uma linda criancinha e saber da possibilidade de um dia ser vítima de sua própria criminalidade, e não poder fazer um milagre para reverter o quadro?
Não é inovador saber que há cérebros predispostos à criminalidade, com comportamentos manifestos já aos seis aninhos? Será que no futuro reverteremos o quadro, ainda na infância?
Será que aquele bandido que te assaltou foi uma criancinha T.D.O. não identificada ou ignorada? Seria Champinha um deficiente intelectual comórbido com T.D.O.? Ou não...