2.11.15

"Hoje por mim; amanhã por ti"

Quem me acompanha sabe o quanto eu curto arte tumular. Curto conhecer cemitérios em todas as cidades onde me hospedo - só mais antigos (quanto mais antigo, mais peculiar e menor, melhor).
Há anos, quando estive hospedada em Conceição, para conhecer as vizinhas São João Del Rei e Tiradentes (mais caras), deparei-me com a frase do título na entrada do cemitério:
"Hoje por mim; amanhã por ti"!
No mínimo, uma colocação onde se debruçar, afinal é nossa única certeza - a efemeridade e fragilidade da vida... 
Então, por que agimos por vezes tão estupidamente, como se tivéssemos cá a eternidade?
Trata-se de um cemitério antiquíssimo; um muro peculiar com cerca de 70 cm de largura; tão pequenino e ainda não cheio, denotando o encolhimento da cidadezinha.
Foram-se tantas cidadezinhas, tantos cemitérios... Entretanto, hoje dia dos mortos, eu detesto visitar necrópoles. 
Assim como em qualquer data "festiva", datas-marco como dia dos pais, das mães são tumultuosas, estressantes. Toda aquela gentarada se acotovelando, agitação, cheiro de flores murchas, aquela disputa velada sobre qual túmulo da família recebe mais vasinhos, comércio, gente arrastando uma melancia tão grande que o peso denuncia a gula...
Em minha cidade, eu gosto mesmo de ir ao cemitério em dias normais, logo que abre às 6 h 00, ainda na penumbra, naquele sossego eremítico, apenas quebrado por esparsos idosos cá e acolá, visitando religiosamente os entes, sem atinar para a sua própria perecibilidade.
Imagem - cemitério local, com o tombado muro do séc. XVIII caiado em branco e portão azul real.

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